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Câncer colorretal: por que sua incidência tem aumentado em faixas etárias mais jovens?

Dados mostram um crescimento gradativo e constante dos casos da doença em pessoas com menos de 50 anos. Causas estariam ligadas a hábitos de vida, com alimentação pouco saudável, sedentarismo e obesidade.

Dados mostram um crescimento gradativo e constante dos casos da doença em pessoas com menos de 50 anos. Causas estariam ligadas a hábitos de vida, com alimentação pouco saudável, sedentarismo e obesidade.

Embora não se saiba o que desencadeou o câncer de cólon (parte do intestino grosso) do ator Chadwick Boseman, que interpretou o herói "Pantera Negra" no cinema, sua morte pela doença aos 43 anos chamou a atenção para uma tendência preocupante: tumores colorretais, que eram mais raros em adultos com menos de 50 anos, têm afetado uma população cada vez mais jovem.

Estudo publicado em 2017 no Journal of the National Cancer Institute (https://academic.oup.com/jnci/article/109/8/djw322/3053481), abrangendo cerca de 500 mil diagnósticos realizados entre 1974 e 2013 nos Estados Unidos, constatou um aumento anual de 1% a 2,4% de novos casos da doença em indivíduos com idade entre 20 e 39 anos e de 0,5% a 1,3% na faixa de 40 a 54 anos. Assim, a geração nascida nos anos 1990 corre risco duas vezes maior de desenvolver câncer de cólon e quatro vezes maior de câncer de reto na comparação com a que nasceu na década de 1950.

Ainda de acordo com o estudo, em 2013, 29% dos casos da doença foram em pacientes com menos de 55 anos. Em 1991, o índice era de apenas 15%.

Relatório de 2020 da Sociedade Americana contra o Câncer mostrou continuidade da tendência, apontando uma redução na incidência da doença na população mais idosa. Segundo o documento, nos últimos trinta anos, a média de idade dos pacientes com câncer colorretal passou de 72 para 66 anos.

Rastreamento a partir dos 45 anos

Diante do cenário constatado nos estudos, sociedades médicas norte-americanas mudaram o protocolo de rastreamento do câncer de cólon e reto, passando a recomendar a sua realização a partir dos 45 anos para a população geral. Até então, a colonoscopia – exame de imagem capaz de detectar e eliminar lesões que podem se tornar câncer ou tumores em fase inicial de desenvolvimento – era indicada a partir dos 50 anos para a população geral.

No Brasil não há dados oficiais sobre a incidência do câncer colorretal por faixa etária, mas estima-se que a tendência seja semelhante devido à similaridade dos hábitos de vida. Isso tem levado muitos médicos do nosso país a orientarem seus pacientes a iniciarem o rastreamento a partir de 45 anos. A regularidade posterior de exames depende do resultado do exame inicial, podendo ser anual, a cada três ou até mesmo a cada cinco anos.

Por que os casos estão aumentando na população mais jovem?

De forma geral, estima-se que cerca de 10% a 20% dos pacientes, independentemente de idade, têm o câncer colorretal associado a fatores genéticos.

O aumento da incidência da doença nas faixas etárias mais jovens tem, entre suas possíveis causas, fatores comportamentais atrelados aos hábitos da vida moderna, particularmente a má alimentação, o sedentarismo e a obesidade.

A dieta predominante para grande parte da população ocidental é baseada em alimentos com alto teor de calorias, como os industrializados, fast food e embutidos, alimentos ricos em açúcares, gordura saturada e conservantes, além do consumo excessivo de carne vermelha (a recomendação é não passar das 480 gramas por semana). Com isso, costuma-se ter pouco espaço no cardápio para os legumes, verduras, cereais e frutas, alimentos ricos em nutrientes, menos calóricos e fundamentais para manter as boas condições de saúde. Maus hábitos alimentares conjugados com sedentarismo resultam atualmente em uma epidemia de obesidade na população, fator de risco comprovado cientificamente para 13 tipos de câncer, dentre eles o câncer de intestino.

Por outro lado, tornou-se mais comum a realização da colonoscopia a partir dos 50 anos, permitindo detectar precocemente o câncer e/ou prevenir futuros tumores por eliminar lesões que poderiam se tornar malignas, reduzindo o número de mortes pela doença, assim como novos casos na população de forma geral.

Os tumores colorretais e seus diferentes graus de agressividade podem afetar pacientes de qualquer faixa etária. Quando o câncer está restrito ao órgão, o tratamento envolve cirurgia para remover a lesão, podendo ser seguido de quimioterapia em situações específicas. Se houver metástase (quando as células malignas se espalharam para outras partes do corpo), o tratamento é feito habitualmente sem necessidade de cirurgia e com a aplicação de medicamentos como os de quimioterapia ou imunoterapia. Este último, que permite que o sistema imunológico reconheça e combata as células cancerígenas, é indicado em situações específicas, nas quais se identifica a presença de uma determinada mutação.

O que faz diferença nas chances de cura ou controle da doença é a fase em que o câncer foi descoberto: quanto mais precoce, maior a possibilidade de cura.

Por isso, é fundamental realizar os exames de rastreamento conforme recomendação do seu médico. E, independentemente de idade, é preciso investir naquela receita que ajuda a prevenir diversos tipos de câncer (incluindo o colorretal) e várias outras doenças: alimentação saudável e prática regular de atividades físicas.

Fonte: Ricardo Carvalho – CRM/SP 132.389

Data de produção: 14/09/2022

Data da última atualização: 21/09/2022