Publicado em 4 de março de 2024
Aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) há um pouco mais de um ano, a utilização do procedimento CAR-T cell promete revolucionar o tratamento contra doenças onco-hematológicas. Já utilizada em adultos, a terapia começa a auxiliar crianças de todo o Brasil e a BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo, um dos principais hubs de saúde do país referenciados para o tratamento, acaba de realizar o procedimento em seu primeiro paciente pediátrico.
A criança é Vitor de Pádua, de nove anos, morador de Belém, e que desde os seis luta contra uma leucemia. Depois de uma recidiva e um transplante de medula que não teve resultado contra a doença, o garoto veio para São Paulo referenciado pelos seus primeiros médicos e passou pelo procedimento de CAR-T na BP.
“A terapia de CAR-T é iniciada quando as células do paciente, conhecidas como linfócitos, são obtidas por meio de um processo chamado aférese (separação dos componentes do sangue por centrifugação). A partir daí esses linfócitos são modificados geneticamente para que reconheçam as células tumorais com maior efetividade, conseguindo destruí-las. Esse processo envolve o envio das células do paciente para o exterior e essa manufatura geralmente ocorre no período de um mês. Após as células terem sido manufaturadas, elas estão prontas para serem infundidas no próprio paciente e são enviadas de volta, já modificadas, para o centro onde o paciente vem recebendo o tratamento”, afirma Phillip Scheinberg, hematologista e coordenador da Hematologia do Centro de Oncologia e Hematologia da BP.
O método é recomendado para pacientes com Leucemia Linfoblástica Aguda (LLA) de células B, Linfoma Difuso de Grandes Células B e Mieloma Múltiplo, e que não respondem mais a várias linhas de tratamento convencionais.
“Após infundidas no paciente, espera-se que estas células permaneçam no corpo da pessoa por tempo indeterminado, funcionando como “vigilantes” contra eventuais células tumorais que possam ter restado de tratamentos anteriores e impedindo que a leucemia (ou linfoma) voltem a aparecer. Assim, as chances de cura, em especial em pacientes com doença avançada aumenta de maneira substancial” explica Victor Gottardello Zecchin, coordenador do Transplante de Medula pediátrico da BP.
Vitor foi uma das primeiras crianças brasileiras a receber a terapia e poucas instituições do país estão aptas a realizar o tratamento com CAR-T, como a BP. Pelo sexto ano consecutivo, o hub de saúde lidera o ranking na região metropolitana de São Paulo na realização de transplantes de medula óssea, solidificando sua posição entre os três principais centros transplantadores do país. Além disso, a BP conta com equipe multidisciplinar, estrutura de alto padrão, banco de sangue e expertise em diversas áreas que possibilitam a realização dessa nova terapia no espaço.
“Estudos mostram que pacientes com linfomas refratários a múltiplas linhas de tratamento, as curvas de sobrevida têm se mantido em torno de 40%, ou seja, têm se mantido livre da doença, em remissão, por anos. Para LLA, os números são ainda melhores, em torno de 50 a 60% de sobrevida livre de eventos. Já para mieloma múltiplo os dados são menos maduros, porém temos visto que a capacidade das células CAR-T obter uma resposta em pacientes altamente refratários é alta, em torno de 80 a 90% no primeiro ano”, diz Zecchin.
Depois de passar pelo tratamento em novembro, Vitor já está de volta a Belém. O jovem, ocasionalmente, precisa retornar ao hospital para monitoramento.
“Aos poucos, espera-se que a produção de glóbulos vermelhos, brancos e plaquetas de Vitor vá se normalizando, e os retornos dele sejam cada vez menos frequentes a hospitais. Gradualmente, ele poderá retomar as atividades do cotidiano, como frequentar aulas presencialmente”, conclui o oncohematologista pediátrico da BP.