Avanços tecnológicos estão aperfeiçoando o tratamento do acidente vascular cerebral isquêmico (AVCI), problema neurológico caracterizado pelo bloqueio do fornecimento de sangue para certas regiões do cérebro devido à obstrução de um ou mais vasos sanguíneos. Ficando muito tempo sem o oxigênio e a glicose trazidos pela corrente sanguínea, as células cerebrais alimentadas por esses vasos podem morrer, gerando diversos tipos de prejuízos aos pacientes.
Trata-se de uma enfermidade tempo-sensível, isto é, que piora à medida que o tempo passa, exigindo intervenções rápidas. Há cerca de uma década, a administração de medicamentos trombolíticos (alteplase) para dissolver coágulos e restabelecer o fluxo sanguíneo na área afetada era a única terapia de reperfusão arterial disponível. Mas, nesse período, foram promovidos estudos que comprovaram a eficácia de técnicas endovasculares via cateterismo para a desobstrução dos vasos, restaurando o fluxo sanguíneo arterial cerebral.
Sobressaiu-se a trombectomia intra-arterial intracraniana, procedimento capaz de agregar aos pacientes melhores desfechos clínicos quando aplicada em até seis horas após os primeiros sintomas do AVCI, conforme descreviam os estudos até então. Para realizar a trombectomia, usa-se um stent autoexpansível removível, dispositivo com uma delicada malha metálica que se acopla aos coágulos e placas de gordura e os extraem quando o instrumento é retirado do vaso (artéria) do cérebro. Também pode ser utilizado um pequeno cateter de aspiração, que suga os coágulos ou trombos obstrutores. A associação das duas técnicas (trombectomia mecânica e aspirativa) mostrou-se bastante eficaz.
Depois de seis horas, porém, só restaria aos pacientes tratamentos conservadores, com o uso de medicamentos focados em proteger os demais tecidos cerebrais, evitar um novo AVC e prevenir problemas, como a pneumonia aspirativa, que aumenta a mortalidade de três ou quatro vezes. A pneumonia aspirativa ocorre devido a danos neurológicos que afetam a capacidade do paciente de engolir corretamente, fazendo com que alimentos e líquidos cheguem aos pulmões, provocando lesões no tecido pulmonar e infecções bacterianas.
Essa janela de tempo começou a ser estendida a partir do final de 2017 com a publicação de dois importantes estudos clínicos internacionais (DAWN e DEFUSE 3) que analisaram os desfechos dos pacientes submetidos à trombectomia mecânica de 6 até 24 horas depois do AVCI. Esse procedimento tornou-se elegível para alguns pacientes cujos exames de imagem indicam que a intervenção é passível porque as áreas afetadas pelo AVC ainda estão sendo beneficiadas por circulação sanguínea colateral, ou seja, não houve a perda total dos neurônios. Na comparação com aqueles que realizaram apenas o tratamento clínico, os indivíduos que fizeram a trombectomia apresentaram maior independência funcional, além de menos riscos de deterioração neurológica, isto é, tiveram menos perdas motoras e cognitivas, mantendo sua autonomia para realizar tarefas cotidianas.
Os estudos também evidenciaram que, na comparação com o tratamento clínico isolado, a trombectomia não implica aumento de risco de hemorragia ou de mortalidade após 90 dias do AVC.
Tudo isso se deu devido aos avanços dos aparelhos e materiais de segunda geração da trombectomia, particularmente dos stents autoexpansíveis removíveis, que estão ano a ano ficando menores, mais seguros e mais performantes.
A despeito da conquista dessa janela estendida, que garantiu a extensão do procedimento a mais pacientes, nada muda em relação à regra de ouro do atendimento de qualquer tipo AVC (além dos isquêmicos, que representam cerca de 85% dos casos, existem também os hemorrágicos, resultantes do rompimento de vasos do cérebro): diante da suspeita do problema, é preciso procurar o quanto antes um pronto atendimento.
No caso do AVCI, os principais sintomas, permanentes ou transitórios, são:
Quanto mais rapidamente um paciente com AVC for atendido, maiores são as chances de os danos causados pela doença serem revertidos. Mas, no caso do AVCI, se passarem mais de seis horas para o atendimento após o início dos sintomas, a pessoa, agora, ainda tem chance de ser beneficiada pela trombectomia mecânica.
Além da imprescindível velocidade no atendimento, o suporte tecnológico e a expertise médica fazem toda a diferença. A BP, por exemplo, tem equipamentos de ponta para realizar com precisão angiografias, exame que fornece imagens detalhadas dos vasos sanguíneos, além de um moderno centro de medicina intervencionista, com avançados aparelhos e equipamentos para a realização de trombectomias mecânicas.
Todos os pacientes são atendidos rapidamente por equipes formadas por neurologistas (realizam o diagnóstico clínico e conduzem os casos), neurorradiologistas (analisam os exames de imagem) e neurorradiologistas intervencionistas (promovem as trombectomias). Contam ainda com a retaguarda de neurocirurgiões, que são acionados, quando necessário, em casos específicos; e neurointensivistas, que atuam na UTI Neurológica, uma das únicas do país. Na BP, todos os pacientes com AVCI são supervisionados por neurointensivistas após a trombectomia. Além disso, a internação ocorre em uma ala dedicada aos pacientes neurológicos, e o processo de reabilitação é iniciado já nessa etapa, a fim de minimizar sequelas.
Fonte: Hennan Salzedas Teixeira - CRM/SP 176.367 e Ricardo Abicalaf CRM/SP 77.889
Data de produção: 17/10/2022
Data da última atualização: 24/10/2022