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Câncer de próstata causa incontinência urinária?

Não é o tumor que causa a incontinência urinária, mas esta pode ser uma sequela, embora pouco frequente, da cirurgia de retirada da próstata nos casos em que o procedimento é indicado. E a grande maioria dos homens tem a função restabelecida em curto e médio prazo.

Ao contrário do que muitos acreditam, não é o câncer de próstata o causador da incontinência urinária. O que pode resultar no problema é a prostatectomia, cirurgia de retirada da próstata, que, aliás, não é necessária em todos os tratamentos. Além disso, é extremamente baixo o número de pacientes que permanecem com incontinência após um ano do procedimento. Essa informação é muito importante: a associação entre cirurgia e incontinência urinária é mais um dos mitos propagados na área da saúde e pode levar o paciente a uma decisão incorreta, desencorajando-o a se submeter ao procedimento.

A incontinência urinária decorre da impossibilidade de controlar a urina e pode ter diversas outras causas além da prostatectomia. Mais comum é a incontinência de esforço, em que a perda pode acontecer em situações como espirro e tosse, entre outras.  

Nos pacientes submetidos à cirurgia, a perda de controle ocorre quando, após o procedimento, o músculo chamado esfíncter uretral não consegue manter o controle de abertura e o fechamento da área de eliminação da urina. Felizmente, o controle também envolve a musculatura pélvica, que na maioria dos casos consegue substituir totalmente o esfíncter naturalmente ou com ajuda de fisioterapia.

Estima-se que entre 40% a 60% dos pacientes apresentem algum grau de incontinência imediatamente após a cirurgia, a maioria reversível no primeiro ano, quando apenas 5% a 7% continuarão com o problema. A incontinência permanente é bem improvável. É um evento de exceção.

O risco de o problema persistir após esse período varia de acordo com alguns fatores, como idade avançada, grau do câncer, ter incontinência prévia, ter passado por cirurgia anterior na próstata ou feito radioterapia. Também influencia a condição física e clínica do paciente. O risco aumenta em homens obesos, diabéticos, que tenham bexiga hiperativa ou infecções.  

O tipo de cirurgia para retirada da próstata – aberta ou minimamente invasiva realizada com suporte de robô – pouco interfere no resultado no longo prazo e potencialmente tem benefício nos resultados mais precoces. O grande diferencial ainda é a experiência do cirurgião. Mas, devido à sua acurácia precisão, a robótica vem ganhando espaço crescente nas prostatectomias. 

A fisioterapia pélvica fortalece o músculo para que exerça o controle da urina, conseguindo reverter a maior parte dos casos de incontinência. Para melhores resultados, é fundamental que seja iniciada nos três primeiros meses. 

Nos casos de persistência do problema após dois anos sem existir uma causa concomitante para a incontinência, há outras soluções. O método mais eficaz, com alta taxa de aprovação dos pacientes, é a colocação de esfíncter artificial. O procedimento envolve a implantação de um dispositivo que funciona como uma válvula em torno da uretra e permite a compressão para controlar a função. 

Para incontinência em menor grau que persistiu, há opções mais simples, como a injeção periuretral de substâncias preenchedoras na uretra para aumentar o tecido ao redor e ajudar o fechamento do orifício do órgão. Também está disponível o sling masculino, um dispositivo semelhante a uma fita que é colocado abaixo da uretra para melhorar o suporte do órgão, ajudando no fechamento da área de saída da urina.  Há, ainda, recursos como o absorvente masculino, que permite ao homem ter uma vida social mesmo enquanto está com incontinência.  

São raros os casos que precisam desses artifícios para a incontinência decorrente da prostatectomia. Contudo, é importante que, antes da cirurgia, o paciente passe por uma completa avaliação urológica para que o médico verifique o grau de risco e esclareça as dúvidas.  Informação clara e correta é um fator primordial para a tomada da melhor decisão no enfrentamento do câncer.

Fontes: Fabio Kater – CRM/SP 99.002 e Murilo Luz – CRM/SP 111.461

Data da última atualização: 27/05/2022