Muitas mulheres costumam ir regularmente ao ginecologista e fazer os exames de mamografia e Papanicolau para detecção precoce dos cânceres de mama e colo de útero, mas a grande maioria não tem as consultas com cardiologista na sua rotina. Deveriam.
As doenças cardiovasculares, que há cinco décadas pareciam ameaçar sobretudo o público masculino, hoje são a principal causa de óbito entre elas. No Brasil, de cada dez vítimas fatais por essas enfermidades, quatro são mulheres.Há 50 anos, não chegava a 10%.
No mundo, segundo o estudo Women's Ischemia Syndrome Evaluation, essa é a causa de um terço das mortes de mulheres. E, embora geralmente se manifestem mais tardiamente no público feminino, tem crescido a ocorrência de doenças isquêmicas, como o infarto do miocárdio, em mulheres mais jovens, entre 15 e 49 anos.
Até a menopausa, as mulheres contam com uma particularidade biológica a seu favor: a produção do estrógeno, hormônio feminino que facilita a dilatação dos vasos e a circulação do sangue, desempenhando um importante papel de proteção cardiovascular. Com a menopausa, esse aliado deixa de existir.
Além de fatores de risco clássicos, que independem de sexo, como hipertensão, dislipidemia (nível elevado de gordura no sangue), diabetes, tabagismo, sedentarismo e obesidade, existem alguns aspectos específicos do público feminino.
Enquanto nos homens os problemas cardíacos são geralmente causados por doença aterosclerótica obstrutiva (impedimento da passagem de sangue na artéria por coágulo ou placa de gordura), nas mulheres eles podem estar também associados à microcirculação sanguínea (artérias menores). Ampliam a gama de riscos, enfermidades que afetam mais as mulheres, entre elas as doenças autoimunes (como artrite reumatoide e lúpus), a dissecção espontânea de coronária (rompimento espontâneo de vaso no coração) e a síndrome de Takotsubo, conhecida como síndrome do coração partido (lesão no coração após forte estresse).
Também fazem parte do leque de riscos a terapia hormonal e medicamentos antineoplásicos utilizados no tratamento do câncer de mama. Na fase pré-menopausa, síndrome do ovário policístico e complicações da gravidez, como eclâmpsia e diabete gestacional, podem se refletir em problemas cardíacos.
Some-se a tudo isso, aspectos comportamentais e sociais, como dupla jornada de trabalho, estresse, depressão e outros problemas de saúde mental e violência de gênero.
Pesquisas mostram que menos da metade das mulheres recebe tratamento adequado para as doenças cardiovasculares. Em parte, isso se deve a sintomas atípicos, que acabam sendo subestimados.
Em um infarto, por exemplo, em vez da clássica dor no peito que irradia para o braço esquerdo, elas podem apresentar manifestações menos características, como desconforto no estômago e nas costas, cansaço, falta de ar, náusea, tontura, sudorese e sensação de ansiedade.
Mais de 60% das pacientes que morrem com doença coronariana não têm sintomas específicos, o que pode atrasar o diagnóstico e, consequentemente, o tratamento adequado, impactando o índice de mortalidade e de sobrevida. A média de sobrevida após o infarto é de 8,2 anos no público masculino e de 5 anos no feminino.
Desde 2022, o Brasil celebra em 14 de maio o Dia Nacional de Conscientização das Doenças Cardiovasculares na Mulher. É uma data relevante, que coloca em foco a importância da prevenção e do diagnóstico e tratamento precoce de alterações que podem levar ao desenvolvimento de enfermidade cardiovasculares.
Independentemente de sexo, é fundamental para a prevenção dessas e de várias outras doenças a adoção de um estilo de vida saudável, com dieta equilibrada, prática regular de atividades físicas, cessação do tabagismo e controle do peso. Igualmente importante é dormir bem, gerenciar o estresse e monitorar pressão arterial, colesterol, triglicérides e glicemia (taxa de açúcar no sangue).
Principalmente a partir da menopausa, é indispensável fazer acompanhamento regular com cardiologista, na periodicidade indicada pelo médico. Esse cuidado deve começar antes no caso de mulheres expostas a fatores de risco, como tabagismo, colesterol alto, hipertensão, diabetes e obesidade. E quem tem histórico de doença cardiológica precoce na família deve iniciar o acompanhamento médico 10 anos antes da idade do familiar que teve o problema
Entre as mulheres, as doenças cardiovasculares matam mais que todos os tipos de câncer somados. Conscientização, prevenção, diagnóstico precoce e tratamento adequado são os elementos que ajudarão a reverter esse cenário.
Fonte: Lara Reinel de Castro CRM/SP 106.081
Data de produção: 08/04/24
Data da última atualização: 23/07/2024