A dor é um dos sintomas mais indesejáveis do mieloma múltiplo, doença que afeta os plasmócitos, um tipo de glóbulo branco que se forma na medula óssea, responsável pela produção de anticorpos que agem contra os vírus e bactérias que ameaçam a nossa saúde. Quanto mais agressiva e avançada for a doença, provavelmente mais dolorosa ela será para o paciente, exigindo o rápido tratamento da enfermidade de base e a adoção de estratégias para controle das dores.
Devido a mutações genéticas de causas desconhecidas, plasmócitos doentes começam a se multiplicar descontroladamente na medula. Além de prejudicar a formação de outras células do sangue saudáveis, eles passam a fabricar anticorpos anormais que não exercem suas funções e ainda podem se depositar em órgãos como os rins, provocando insuficiência renal. Dentro da medula, esses anticorpos defeituosos ativam reações de destruição óssea, tornando os ossos parecidos com queijo suíço. Mais frágeis, eles se ficam suscetíveis a fraturas espontâneas ou perda óssea, muitas vezes comprimindo os nervos vizinhos. No Brasil, onde o diagnóstico e tratamento do mieloma múltiplo costuma ocorrer mais tardiamente, são comuns casos mais avançados da doença combinados com esses doloridos problemas ósseos.
Nessas situações, é fundamental que, paralelamente ao tratamento da doença de base, sejam incorporados recursos capazes de controlar e impedir a progressão das dores e dos problemas ósseos. Além da administração de analgésicos para aplacar dores já manifestas, são prescritos bisfosfonatos e denosumabe (um anticorpo monoclonal) para impedir o avanço da doença óssea provocada pelo mieloma. Esses dois medicamentos ajudam a frear o processo metabólico de destruição óssea (osteólise), inibindo a ação indevida dos plasmócitos doentes sobre os osteoblastos e os osteoclastos, células responsáveis, respectivamente, pelo processo de formação e reconstituição dos ossos. No paciente com mieloma múltiplo, os osteoblastos tornam-se menos ativos, enquanto os osteoclastos passam a destruir o tecido ósseo com mais intensidade.
Lesões exigem abordagens individualizadas, de acordo com cada caso. Fraturas em ossos longos, como o úmero e o fêmur, são tratadas por ortopedistas que utilizam técnicas cirúrgicas para a fixação dos ossos. Cirurgias ortopédicas preventivas também podem ser recomendadas nos casos em que exames de imagens indicam fraturas iminentes. Em pacientes com mieloma, é frequente e mais fácil realizar uma intervenções ortopédica preventiva do que operá-los após as fraturas.
A radioterapia local pode ser aplicada para o controle da dor no caso de lesões ósseas não operáveis. Além de analgesia, a emissão de radiação ajuda a frear pontualmente o processo tumoral em curso na lesão óssea.
Quando as dores incidem na coluna (lombalgia) devido a lesões nas vértebras, os médicos avaliam qual a melhor solução em cada caso: cirurgia, radioterapia ou outras técnicas. Se existem fragmentos ósseos soltos, a intervenção cirúrgica é mandatória. Quando a lesão ocorre por desgaste, sem fratura, a alternativa pode ser a radioterapia ou outros meios, como a cifoplastia, técnica que usa cimento ósseo para reparar as lesões na coluna.
É importante lembrar que, na maioria dos casos, as dores são primeiro sinal de alerta da doença (90% dos pacientes têm as dores ósseas na coluna como primeiros sintomas). Levando isso em consideração, campanhas vêm sendo realizadas para alertar a população e também clínicos gerais e ortopedistas para, mediante um quadro de dores ósseas, considerar que pode se tratar de mieloma múltiplo. O objetivo é contribuir para o diagnóstico e tratamento precoces, caminho que impedirá o desenvolvimento das formas mais agressivas e doloridas da doença.
Fontes: Breno Gusmão - CRM/SP 166.471 3
Data da última atualização: 30/03/2022