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Dá para prevenir o câncer de próstata?

A resposta é negativa: não existe uma prevenção específica para essa doença. Por isso, o melhor é vencer os tabus e realizar os exames de rastreamento, que permitem o diagnóstico precoce

Cerca de 90% dos casos de câncer de próstata são curados quando descobertos em estágio inicial. E isto depende basicamente de uma atitude fundamental, destacada nas campanhas do Novembro Azul: homens a partir dos 50 anos ou antes, se tiverem fatores de risco, precisam realizar regularmente os exames de rastreamento, que incluem o toque retal e o PSA (Antígeno Prostático Específico), um exame de sangue que detecta aumento de uma proteína que pode estar associada a esses tumores.

Embora venha aumentando o número de homens que realizam esses exames com regularidade, ainda é forte o tabu que faz com que muitos deles prefiram correr o risco de descobrir a doença quando ela já está em estágio mais avançado, fase em que começam a aparecer alguns sintomas, como alterações na micção ou presença de sangue na urina ou no sêmen. No Sistema Único de Saúde (SUS), de 30% a 40% dos homens fazem o acompanhamento anual da próstata. No sistema privado, o índice é um pouco maior, girando entre 50% e 60%.

Infelizmente, não há uma forma específica de prevenção do câncer de próstata. A única recomendação – que ajuda a reduzir o risco de diversos tipos de tumores e de várias outras doenças – é adotar um estilo de vida saudável, com prática regular de atividade física, alimentação balanceada e pobre em gordura e proteína animal. Mas quem espera uma receita específica para prevenir o câncer de próstata não vai encontrar. Por isso, a palavra de ordem é manter um estilo de vida saudável e realizar exames regularmente, dentre eles, os de toque retal e PSA. É importante que ambos sejam feitos, pois apenas com a combinação dos resultados o médico pode avaliar com maior assertividade se há necessidade de aprofundar a investigação. 

Para os homens de maneira geral, a recomendação é iniciar a rotina de exames a partir dos 50 anos, dez anos antes do período em que começa a aumentar a incidência da doença (a partir dos 60 anos). Antes dos 65 anos, ocorrem entre 50 a 100 casos a cada grupo de 100 mil homens. A partir daí, a proporção é de 1.500 casos por 100 mil homens.

Cerca de 3% a 5% dos casos estão relacionados com mutações em genes específicos, como o BRCA 1 e o BRCA 2, também associados ao câncer de mama, e o HOXB13. Outros não tiveram ainda a identificação genética, mas observa-se uma incidência maior em homens com histórico familiar de câncer de próstata. Para esses indivíduos, a recomendação é iniciar os exames de rastreamento mais cedo, aos 45 anos. O mesmo vale para afrodescendentes, considerados grupo de risco também. 

Evolução em diagnóstico e tratamento

Um importante avanço quando são identificadas suspeitas nos exames de toque retal e/ou PSA é o uso de ressonância magnética. As imagens obtidas nesse exame permitem classificar a lesão pela tabela PI-Rads, uma metodologia com critérios padronizados para avaliar a probabilidade de ser maligna, indicando se deve ou não ser realizada uma biópsia. Antes, em caso de alterações no toque retal ou no PSA, o paciente era encaminhado diretamente para a biópsia.

Outra frente promissora e com indicações específicas, é o exame de imagem PET-CT com uso do radiofármaco PSMA (Prostate-Specific Membrane Antigen), que permite uma avaliação abrangente do tumor prostático, identificando se atingiu linfonodos e outras partes do organismo.

Nem todo paciente com o câncer de próstata confirmado precisará de tratamento imediato. Atualmente, em casos classificados como de baixo ou muito baixo risco, adota-se a estratégia de vigilância ativa, com acompanhamento por meio de exames semestrais para avaliar se há progressão do tumor. A ideia é evitar um tratamento desnecessário, que só vai gerar estresse e desgaste da condição de saúde do paciente para tipos de tumores pequenos e de baixa agressividade. 

Quando a classificação aponta para risco intermediário, alto ou muito alto, o protocolo é de um tratamento radical, com intuito curativo, como a cirurgia ou a radioterapia. 

A prostatectomia radical – cirurgia para retirada da próstata, vesículas seminais e outros tecidos e, dependendo do risco, dos linfonodos (gânglios linfáticos) da região - pode ser feita pela via convencional, laparoscópica ou robótica. A radioterapia também pode ser feita com diversas técnicas, como a braquiterapia (também chamada de radioterapia interna, em que a fonte de radiação é colocada dentro da área a ser tratada ou junto dela) ou radioterapia externa, com protocolos como o IMRT (Radioterapia de Intensidade Modulada) e o IGRT (Radioterapia Guiada por Imagem).

Em alguns casos de tumores da próstata, pode ser necessária a combinação de técnicas, como cirurgia seguida de radioterapia complementar. Somente uma equipe multidisciplinar poderá indicar com mais segurança o tratamento individualizado para cada paciente.

Tanto a cirurgia como a radioterapia tiveram importantes avanços técnicos e tecnológicos. Da cirurgia aberta, realizada em grande escala antigamente, passou-se a realizar a laparoscopia, técnica minimamente invasiva que hoje pode ser realizada com o auxílio de robô, que agrega precisão ainda maior ao procedimento. As cirurgias menos invasivas trazem ganhos importantes em termos de rapidez na recuperação do paciente e na superação dos efeitos colaterais que os homens mais temem: a incontinência urinária e a disfunção erétil. 

Na radioterapia, novas tecnologias permitem a aplicação de doses maiores e com precisão no alvo, poupando áreas adjacentes e melhorando a efetividade do tratamento. 

Há, ainda, outras terapias, como ablação por crioterapia (técnica de congelamento, que usa temperaturas muito baixas para destruir as das células malignas) e o HIFU (sigla em inglês para Ultrassom Focalizado de Alta Intensidade), que se aplicam a casos muito isolados, quando há impeditivos para o tratamento protocolar. Todos esses avanços são bem-vindos, pois mudaram para melhor a forma de diagnosticar e tratar o câncer de próstata. O que ainda precisa mudar é a atitude de muitos homens que, dominados por tabus, deixam de fazer a sua parte: os exames de rastreamento.  

Fonte: Gustavo Guimarães - CRM/SP 80.506

Data da última atualização: 01/11/21