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Frutas e castanhas ajudam a prevenir o câncer colorretal

Esses alimentos contribuem para evitar os processos inflamatórios associados ao desenvolvimento desse tipo de tumor. Consumo deve ser diário e equilibrado.

O consumo diário de três a cinco porções de frutas – alimentos ricos em vitaminas, minerais e fibras – ajuda a prevenir o câncer colorretal, tumores que ocorrem no cólon (parte do intestino grosso), reto e ânus. Uma porção equivale de 10 a 12 unidades de frutas pequenas, como uva e morango; uma unidade das de tamanho um pouco maior, como maçã, laranja ou pera; meia unidade das que têm tamanho médio, como manga, mamão papaia e abacate; e uma fatia com cerca de dois dedos de largura no caso das maiores, como melão e melancia.

Um dos benefícios associados ao consumo de frutas é a ingestão de fibras. Entre as funções exercidas, elas auxiliam o bom trânsito intestinal, que não pode ser muito lento nem muito acelerado. Quando mais lento, mais tempo os resíduos que formam o bolo fecal ficam depositados no cólon, e os líquidos vão sendo totalmente absorvidos, dando origem a fezes pequenas e ressecadas. Quando o trânsito é acelerado, há perdas na absorção dos nutrientes. Fezes pastosas indicam uma boa saúde intestinal.

As fibras insolúveis, como casca de frutas e de alguns grãos e sementes, além de vegetais folhosos, não são digeridas, mas promovem uma varredura da parede interna do intestino, livrando os tecidos que a revestem de substâncias e impurezas que podem desencadear processos inflamatórios na região. Inflamações desse tipo estão implicadas no processo de formação de tumores.

Já as fibras solúveis, presentes nas polpas de frutas e vegetais, estão associadas à produção de substâncias como butirato, propionato e acetato, produtos da fermentação digestiva que estimula a proliferação das bactérias boas que vivem no nosso sistema intestinal (microbiota). Elas são fundamentais para o bom funcionamento do nosso sistema metabólico e imunológico, ajudando a prevenir doenças, controlar a ação de enfermidades já existentes e potencializar os tratamentos.

É importante dar preferência ao consumo das frutas in natura. O suco tem muito menos fibras. Além disso, quando consumidas in natura, as fibras também ajudam a controlar a absorção da frutose (açúcar das frutas), contribuindo para regulação do açúcar no sangue. Se o consumo for na forma de vitamina (frutas batidas com água), ela não deve ser coada. Recomenda-se, ainda, consumir frutas antes da refeição, principalmente as frutas enzimáticas, como abacaxi e mamão, que ajudam no processo de digestão, quebrando as macromoléculas dos outros alimentos.

As vitaminas, inclusive das frutas, também têm funções preventivas. Relatório da Organização Mundial da Saúde de 2020, por exemplo, indica que alimentos contendo vitamina C e D têm evidências sugestivas de prevenção a formação de tumores colorretais. A vitamina C pode ser encontrada nas frutas amarelas e vermelhas. Além de alimentos como peixes, ovos e cogumelos, a principal fonte de vitamina D é a exposição segura aos raios solares.

Áreas científicas ainda pouco difundidas no Brasil também têm contribuído para uma maior compreensão sobre o papel das frutas no combate do câncer. A Nutrigenômica, especialmente, vem permitindo entender como determinados tipos de alimentos, as frutas entre eles, interagem com o perfil metabólico de cada pessoa, que está relacionado com as características genéticas. Isso é feito a partir de testes metabolômicos, que traçam perfis metabólicos, orientando a prescrição de dietas e cardápios mais individualizados.

Consumo de castanhas
Pesquisas científicas recentes também lançaram luzes sobre os benefícios do consumo diário de castanhas, alimentos ricos em óleos monoinsaturados e polinsaturados (ômega 6 e 3). Os primeiros auxiliam na absorção das vitaminas A, E, D e K (vitaminas insolúveis lipossolúveis), enquanto os segundos contêm antioxidantes, polifenois, fitoesterois, fibras, zinco, cobre, selênio e outros minerais.

Um desses trabalhos é o estudo observacional Predimed Trial, que avaliou, a partir de questionários, a incidência de câncer na população estudada. O estudo Peanut Consumption and Reduced Risk of Colorectal Cancer in Women: A Prospective Study in Taiwan, que recrutou 24.000 pessoas e as acompanhou durante 10 anos, mostrou benefício na população feminina. O estudo Europeu de Investigação Prospectiva (Epic), que recrutou 141.988 homens e 336.052 mulheres, também apontou redução do índice de câncer cólon em mulheres que consumiram 16 g de grãos e castanhas diariamente em comparação com o grupo que não consumiu. Vale ressaltar que o recrutamento desses estudos foi maior no público feminino.

Os estudos mostraram que a ingestão de três porções de castanhas por semana foi positiva para a diminuição da incidência de câncer de cólon. Todavia, eles também concluem que só o consumo de castanhas não basta. É fundamental eliminar da dieta fatores de risco já comprovadamente associados aos cânceres colorretais, como o consumo exagerado de carne vermelha.

Em resumo, é necessário sempre pensar nos hábitos alimentares de uma forma global. A recomendação é que as dietas sejam enriquecidas com variados tipos de frutas, castanhas, grãos e demais alimentos integrais e naturais, ricos em fibras, minerais e vitaminas.

Na hora de escolher o cardápio de frutas, é importante um cuidado adicional: levar em conta os índices glicêmicos, indicador que mensura a capacidade que um alimento com carboidrato tem de aumentar a glicemia (a quantidade de açúcar no sangue). Mamão papaia (1/2 fruta média tem 6,3 g de frutose e índice glicêmico de 58), banana (1 porção média de 120 g tem 7,1 g de frutose e índice glicêmico de 49) e laranja-baía (1 porção média de 120 g tem 6,1 g de frutose e índice glicêmico de 42) são conhecidas pelos altos índices glicêmicos. Maçã, ameixa e morango são exemplos de opções com baixo índice. Lembre-se que a máxima de Philippus Aureolus Theophrastus Bombastus von Hohenheim (Paracelsus) também vale para as frutas e castanhas: a diferença entre o remédio e o veneno é a dose.

No caso das castanhas, as mais acessíveis para os brasileiros são a castanha-do-Pará, a castanha-de-caju e a noz pecan, que possuem preços mais em conta comparado com outras, como pistache, macadâmia e amêndoa. A recomendação é consumir três unidades de tipos diferentes de castanhas. Como são elementos ricos em proteínas e demais nutrientes, castanhas têm alta capacidade de conferir a sensação de saciedade, propícias para serem consumidas uma hora antes das refeições.

É importante ter em mente que não existe um alimento que, sozinho, é capaz de fazer milagres na prevenção do câncer colorretal. É importante combater outros fatores de risco, como sedentarismo, obesidade, diabetes tipo 2 e alimentos açucarados e processados, ricos em conservantes. Muitos alimentos industrializados usam o sódio (sal) e açúcares inclusive como conservantes, muitas vezes não sendo percebidos pelo paladar. No caso da carne vermelha, a recomendação é não exceder as 500 gramas por semana.

Para finalizar, vale outra dica: tudo o que está em falta ou em excesso faz mal. Na alimentação, como tudo na vida, é o equilíbrio que faz a diferença.

Fonte: André Silva Santos – CRM 111.622 SP; Andrea Rolfsen Magan (nutricionista)

Data da última atualização: 12/7/2021