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Imunoterapia como nova aliada no tratamento dos tumores gastrointestinais

Aplicados de maneira isolada ou em combinação com outros recursos terapêuticos, medicamentos imunoterápicos têm contribuído para melhorar os resultados e a qualidade de vida dos pacientes.

Considerada uma revolução no tratamento oncológico, a imunoterapia também vem sendo aplicada no combate a tumores do sistema gastrointestinal, com benefícios comprovados nos cânceres de esôfago, estômago, fígado, vias biliares e colorretal. Seu uso tem contribuído para melhor controle da doença, redução do risco de recidiva (retorno do câncer) e até promovendo a cura em alguns casos.

Diferentemente da radioterapia e da quimioterapia que agem diretamente sobre as células cancerígenas, os medicamentos imunoterápicos estimulam o próprio sistema imunológico do paciente a identificar e destruir essas células. De forma geral, a imunoterapia é menos tóxica do que a quimioterapia.

No Brasil, estão aprovados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para tratamento de neoplasias gastrointestinais os imunoterápicos nivolumabe, pembrolizumabe e atezolizumabe. Nem todos os tipos de tumores e pacientes devem ser tratados com imunoterapia. Contudo, é uma opção importante a ser avaliada nos casos em que pode ser aplicada, seja de maneira isolada ou em combinação com quimioterapia.

Tratamento de acordo com o tipo de câncer

Nos tumores do esôfago do tipo carcinoma escamoso, o tratamento cirúrgico é habitualmente insuficiente. Assim sendo, faz-se necessário o emprego de radioterapia combinada à quimioterapia e, em seguida, os pacientes são operados. Nos casos em que a análise da peça cirúrgica ainda acusa a presença de células tumorais viáveis, a imunoterapia deve ser empregada, uma vez que ela reduz a possibilidade de metástase (disseminação para outras partes do corpo) ou de recorrência do câncer. Estudos mostram que essa abordagem reduz em 50% o risco de recidiva. Combinada com quimioterapia, a imunoterapia também é indicada para os tumores de esôfago dos tipos adenocarcinoma e carcinoma espinhoso em estágios mais avançados e metastáticos. Em algumas situações é inclusive possível tratar esses pacientes apenas com imunoterapia, sem quimioterapia, o que pode minimizar o risco de apresentarem eventos adversos.

No câncer de fígado, um dos mais letais, a imunoterapia está aprovada no Brasil como tratamento de primeira linha nos casos de tumores sem possibilidade de cirurgia ou transplante hepático ou na presença de metástases, trazendo ganhos em controle de doença e sobrevivência.

Nos cânceres avançados das vias biliares e nos tumores de estômago metastáticos ou recidivados, a combinação de imunoterapia e quimioterapia também tem contribuído para melhores resultados e aumento da sobrevida. Nota-se que alguns desses pacientes podem apresentar um benefício pronunciado e duradouro.

No combate ao câncer colorretal, os ganhos da imunoterapia, por enquanto, beneficiam apenas os pacientes com a chamada instabilidade de microssatélites, um tipo de alteração no DNA que ocorre em torno de 5% dos casos. Nesses casos, a imunoterapia pode substituir a quimioterapia como primeira linha de tratamento.

Estudos e pesquisas em andamento devem levar não apenas ao desenvolvimento de novos medicamentos imunoterápicos, mas também à extensão de aplicações dos existentes e a novas combinações de tratamentos. Tanto no tratamento dos cânceres gastointestininais como de outros tipos de tumores, a revolução dos imuterápicos está apenas começando.

Breve histórico curioso

Os grandes avanços na área que resultaram nas aplicações atuais foram impulsionados há cerca de uma década. No entanto, o conceito de manipular o sistema imunológico surgiu há mais de um século, com a observação de que certos pacientes com câncer que tinham infecção bacteriana apresentavam remissão dos seus tumores. Ou seja, o combate do organismo à infecção também agia nas células malignas.

Outras estratégias foram desenvolvidas ao longo desses anos, como a aplicação da vacina BCG (contra tuberculose) em certos casos de câncer de bexiga a fim de evitar sua reincidência. A imunoterapia moderna foi inaugurada há mais de uma década com o tratamento do melanoma maligno, um dos tipos de câncer que mais se beneficia da manipulação do nosso sistema imunológico. De lá para cá, tem surgido cada vez mais novos dados de pesquisas, ampliando o leque de cânceres que podem ser combatidos com a imunoterapia e o conhecimento de quais pacientes podem se beneficiar mais com essa abordagem.

Fonte: Lucas Vieira de Santos – CRM 115.834

Data de produção: 27/07/2022

Data da última atualização: 30/07/2022