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Leucemia linfoide aguda: novos tipos de tratamento, alguns revolucionários

Além dos quimioterápicos, que evoluem ano a ano, novos medicamentos e terapias trazem avanços importantes no tratamento dessa doença. Um dos destaques é a terapia de CAR-T.

Febre, sangramentos, palidez, aumento dos gânglios, inchaço do baço e fígado e dores musculoesqueléticas são os principais sintomas da leucemia linfoide aguda (LLA), doença provocada por mutações genéticas que fazem com que a medula óssea passe a fabricar de forma descontrolada linfócitos (glóbulos brancos) defeituosos. Esse câncer hematológico pode afetar tanto adultos como crianças e adolescentes. Ele exige diagnóstico rápido, detalhado e preciso. O tratamento, realizado a partir de rigorosos protocolos médicos, tem evoluído continuamente.

Diagnóstico
Mediante suspeita, o primeiro recurso empregado para investigar a presença da LLA é o hemograma, exame de sangue capaz de descobrir se existem células doentes geradas na medula circulando na corrente sanguínea. Caso positivo, outros exames serão necessários para confirmar e refinar o diagnóstico:

  • Mielograma: a partir de uma amostra extraída da medula óssea por punção, são analisados formato, tamanho e tipos de células doentes. Também é realizada a contagem de células defeituosas. Um percentual igual ou superior a 25% confirma o diagnóstico de leucemia linfoide aguda.
  • Citometria (ou imunofenotipagem): é aplicada para descobrir se a LLA decorre de mutações nas células linfoides do tipo T ou B. Esse exame é crucial para definir o tipo de leucemia aguda presente.
  • Cariótipo (exame de citogenética) e exame Fish (Hibridização Fluorescente in Situ): esses exames permitem verificar se existem alterações numéricas ou estruturais nos cromossomos das células doentes. No caso da LLA com cromossomo Philadelphia, por exemplo, o cromossomo 9 transfere indevidamente seu material genético para o cromossomo 22. Esse tipo de informação é estratégico para classificar o grau de risco da doença e escolher o tipo de tratamento.
  • Análises moleculares: realizadas a partir de exame genético das células doentes, essas análises podem complementar os demais exames.

Tratamento

A LLA foi um dos primeiros tipos de câncer que a medicina conseguiu curar com a quimioterapia. Hoje, esse tratamento de base da doença está bem ancorado em protocolos quimioterápicos que envolvem múltiplos tipos de medicamentos, várias formas de combinação e diferentes esquemas de administração (tempo de infusão, quantidade de ciclos etc.).

Além do contínuo aperfeiçoamento desses protocolos e da gama de quimioterápicos, o tratamento da LLA tem registrado importantes avanços com o desenvolvimento de outras classes de medicamentos e novas abordagens terapêuticas.

No campo da imunoterapia (ou terapia celular), que envolve a utilização de anticorpos monoclonais (proteínas sintetizadas em laboratório) para induzir o próprio organismo do paciente a matar as células leucêmicas, um dos destaques é o blinatumomabe. Esse anticorpo conecta as células doentes aos linfócitos T saudáveis, células do sistema imune que vão se encarregar de eliminar as primeiras. Esse medicamento é especialmente útil nos casos em que as células doentes resistiram ao tratamento quimioterápico (doença residual) ou de recidiva (volta da doença após o tratamento). Sua incorporação pelo Sistema Único de Saúde (SUS) já está sendo estudada.

Na área da terapia-alvo molecular, a novidade é o inotuzumabe, proteína que funciona como um míssil teleguiado que injeta dentro das células doentes um potente quimioterápico que age toxicamente somente na célula-alvo, preservando as demais células saudáveis. Já exitem estudos analisando sua aplicação como primeira linha de tratamento, ou seja, antes mesmo da administração dos quimioterápicos convencionais, que agem sistemicamente em todo o organismo.

Avanços também têm sido obtidos com o desenvolvimento de inibidores de BCR-ABL, indicados para até 30% dos pacientes com LLA associada à alteração cromossômica Philadelphia. Pessoas com essa característica genética têm doenças mais agressivas, uma vez que a enzima BCR-ABL associada ao cromossomo Philadelphia estimula a multiplicação das células defeituosas da leucemia. Entre esses inibidores mais promissores, estão o imatinibe, o dasatinibe e o ponatinibe. Esses medicamentos foram testados inicialmente em leucemias mieloides crônicas e agora estão sendo usados para a LLA de forma isolada ou combinada com quimioterapia.

Estudos genéticos também descobriram um novo subtipo de LLA parecido com a LLA com cromossomo Philadelphia. Chamada de leucemia linfoide aguda Philadelphia-like, ela atinge 20% dos portadores da doença. Atualmente, há estudos analisando a eficácia dos inibidores de BCR-ABL nesse subtipo.

Inovação disruptiva
A mais recente novidade é a terapia de CAR-T, aprovada há pouco tempo no Brasil para uso nos pacientes com LLA. Trata-se de uma inovadora forma de tratamento baseada na combinação de engenharia genética com os conhecimentos das terapias-alvo. Extraídas do sangue dos pacientes e manipuladas em laboratório, células T do sistema imune são ensinadas a atuarem como soldados especializados no combate às células leucêmicas. A ideia é que elas eliminem todas as células defeituosas até levar à remissão da doença. Considerado revolucionário, esse tipo de tratamento já vem sendo utilizado nos Estados Unidos. No Brasil, deve começar a ser desenvolvido até meados deste ano, colocando nosso país no mapa de novas formas de cura da LLA.

O Hospital BP ampliou o Centro de Oncologia e Hematologia. O novo modelo cancer center permite tratamento integral que vai desde o rastreio até a reabilitação pós-tratamento de pacientes oncológicos.

Fontes: Fabio Pires de Souza Santos - CRM/SP 108.253

Data da última atualização: 29/04/2022