O mieloma múltiplo é uma doença onco-hematológica que atinge os plasmócitos, tipo de glóbulo branco gerado na medula óssea responsável pela produção dos anticorpos que combatem vírus e bactérias. Por conta de mutações genéticas não hereditárias, plasmócitos anormais começam a se multiplicar exageradamente, fabricando anticorpos defeituosos, além de dificultar a produção de outras células do sangue e de anticorpos pelos plasmócitos saudáveis existentes no organismo. Pessoas com essa doença estão mais sujeitas a infecções e anemias, estas provocadas pela proliferação de plasmócitos anômalos que impedem o funcionamento normal da medula óssea e, consequentemente, das células no sangue (hemácias, leucócitos e plaquetas).
Como a medula óssea é encontrada no interior dos ossos, os plasmócitos doentes também podem provocar lesões líticas, caracterizadas por buracos ósseos que podem levar a fraturas espontâneas. A proteína monoclonal (anticorpos anômalos) produzida pelos plasmócitos doentes pode, ainda, se acumular fora da medula, em órgãos como os rins, levando à insuficiência renal.
A doença está associada a fatores de risco como a exposição à radiação e a substâncias químicas, como benzeno e fertilizantes, e infecções virais. Ela é mais comum a partir da sexta década da vida, com mediana de diagnóstico aos 66 anos. É um pouco mais frequente nos homens, especialmente na população negra. No Brasil, estima-se a ocorrência, a cada ano, de sete novos casos a cada grupo de 100 mil habitantes.
Sintomas, diagnóstico e tratamento
O sinal clássico de mieloma múltiplo é a elevação do nível de cálcio no sangue relacionado à destruição óssea, insuficiência renal, anemia e às lesões ósseas. De 70% a 90% dos casos chegam ao hematologista em razão de dores ósseas incomuns. Outras queixas recorrentes são falta de energia e palidez, ambas vinculadas a quadros de anemia.
Diante de suspeita clínica, a doença é facilmente detectada por meio de um simples exame de sangue, a eletroforese de proteínas. Como os anticorpos gerados pelos plasmócitos são tipos específicos de proteínas, esse exame é capaz de identificar anormalidades associadas ao mieloma múltiplo. Pode ser incluído ainda o exame de urina, que também analisará a presença dessas proteínas. O diagnóstico conclusivo ocorre com a realização de biópsia na medula óssea, com coleta de amostra para a contagem de células anormais. A presença de mais de 10% dessas células sobre o total significa que a doença está instalada.
Algumas pessoas podem ter a doença de forma assintomática. Nesses casos, elas são apenas acompanhadas pelo médico, sem necessidade de tratamento. Quando os sintomas aparecem, o paciente precisa ser tratado, mas, na maioria dos casos, o início não é imediato. Existem critérios validados por entidades científicas internacionais que definem o momento e as circunstâncias para começar o tratamento.
Ainda incurável, o mieloma múltiplo é controlável por meio de quimioterápicos e, em alguns casos específicos, radioterapia. O transplante de medula óssea é reservado para pacientes com até 75 anos com bom quadro clínico. Do total de pacientes com a doença, cerca de 40% são transplantados. Contudo, cada vez mais os tratamentos medicamentosos vêm se consolidando como preferenciais, principalmente em razão do aperfeiçoamento dos novos quimioterápicos.
Futuro promissor
O futuro reserva novidades que prometem avanços importantes. É o caso, por exemplo, do CAR-T Cell, terapia baseada na extração dos linfócitos do próprio paciente para serem geneticamente modificados em laboratório e “treinados” para reconhecer os plasmócitos doentes como corpos estranhos ao organismo. Depois, são multiplicados e devolvidos ao paciente, via transfusão, para combater e eliminar as células doentes.
Um tipo de CAR-T Cell já foi aprovado nos Estados Unidos para uso em pacientes que já recidivaram pelo menos três vezes, e a terapia segue em fase de aprovação na Europa. No Brasil, pesquisas clínicas, algumas com participação da BP, serão iniciadas ainda este ano.
Outra frente promissora são os novos anticorpos fabricados em laboratório capazes de atacar as células doentes a partir do reconhecimento de uma proteína específica expressa na membrana. Trata-se de um novo mecanismo terapêutico, mas que age sobre o mesmo alvo que está sob a mira dos linfócitos “treinados”pela terapia de CAR-T Cell. Estudos clínicos com essa nova tecnologia estão em andamento e a BP participa de alguns.
Todos esses caminhos que a medicina vem trilhando certamente levarão o cuidado do mieloma múltiplo a novos horizontes, com melhores resultados e mais qualidade de vida para os pacientes.
Fonte: Breno Moreno de Gusmão – CRM 166.471 SP
Data da última atualização: 7/5/2021