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Avanços importantes no tratamento do câncer de pulmão

Novidades em várias frentes têm permitido aumentar as chances de cura da doença. Além disso, no futuro, casos metastáticos poderão tornar-se iguais a doenças crônicas, controlados continuamente por meio de medicamentos.

Com inovações terapêuticas e diagnósticas, a medicina está promovendo uma revolução no tratamento do câncer de pulmão, o segundo tipo de tumor mais comum em homens e mulheres no Brasil, excetuado o câncer de pele não melanoma. A cirurgia para a extração da lesão maligna ainda é a intervenção mais comum para o enfrentamento da doença quando identificada em fases precoces. Todavia, os avanços em todas as frentes de tratamento são tão extraordinários que, cada vez mais, aumentam os índices de cura. Futuramente, até os casos metastáticos, quando o câncer já se espalhou para outras partes do corpo, deverão tornar-se doenças crônicas, controladas à base de remédios.

No campo dos medicamentos, as principais novidades estão relacionadas à imunoterapia e à terapia-alvo. Consideradas inicialmente como alterativas para o tratamento de casos avançados, ambas começaram a ser aplicadas em estágios mais precoces do tratamento, muitas vezes substituindo totalmente a quimioterapia tradicional.

Imunoterapia

A imunoterapia – inovação que rendeu aos seus criadores, James P. Allison e Tasuku Honjo, o Prêmio Nobel de Medicina ou Fisiologia de 2018 – funciona desarticulando a camuflagem química produzida pelas células tumorais que faz com que as células de defesa do corpo não as reconheçam, deixando-as livres para crescerem e se multiplicarem. Com essa ação anticamuflagem dos medicamentos imunoterápicos, o próprio organismo passa a identificar, atacar e eliminar de forma mais eficiente as células anormais.

A imunoterapia aplicada para o câncer de pulmão foi aprovada nos Estados Unidos em 2016, para casos de tumores avançados e metastáticos, e posteriormente validada no Brasil. Em 2018, ela foi aprovada também para o tratamento de lesões localizadas que não podem ser operadas e, mais recentemente, começou a ser disponibilizada para casos cirúrgicos, para evitar o retorno da doença (recidiva).

Em todos os casos, a imunoterapia é mais bem indicada quando se conhecem perfis específicos de pacientes, definidos a partir de testes imuno-histoquímicos, que possibilitam saber se os tumores se valem ou não de mecanismos de camuflagem para se esconder do sistema imunológico e quais seriam esses mecanismos.

Terapia-alvo

Outra frente de avanço vem com a terapia-alvo, baseada em uma característica presente em grande parte das células doentes: defeitos moleculares que funcionam como motores da doença, ou seja, produzem proteínas anormais que fazem as células se multiplicarem com mais velocidade ou impedem que elas morram naturalmente. São essas anomalias que possibilitam que o câncer cresça e se espalhe. Especialistas projetam que cerca de 50% dos cânceres de pulmão tenham algum tipo de alteração do gênero.

Os remédios alvo-dirigidos são ministrados justamente para bloquear a ação dessas proteínas, após exames laboratoriais que identificam as características moleculares das células que as fabricam. Um pouco mais antiga que a imunoterapia, a terapia-alvo vem evoluindo à medida que a ciência mapeia novos alvos moleculares. Atualmente oito alvos associados ao câncer de pulmão já têm remédios aprovados, inclusive terapias-alvo que agem bem no cérebro, região do corpo comumente afetada por metástases e de difícil tratamento.

Nesse campo de investigações, a ciência também registra novas conquistas. Em vez da análise de material de biópsia para detecção dos alvos moleculares, hoje esse teste pode ser feito por meio de um exame de sangue. Além disso, se antes era possível analisar poucas dezenas de alterações moleculares, o refinamento dos testes permite atualmente a análise de centenas de mutações.

Colhendo frutos

Até o advento da imunoterapia, metade dos pacientes com câncer de pulmão metastático falecia antes do primeiro ano de tratamento e havia pouquíssimos vivos depois do segundo ano de doença. Com essa terapia, hoje existem de 15% a 30% de pacientes vivos depois de cinco anos de tratamento e com boa qualidade de vida, o que aponta para a possibilidade de a medicina transformar uma doença fatal em crônica, principalmente quando a imunoterapia é conjugada com a terapia-alvo.

Em relação aos pacientes com tumores menos avançados, essa evolução implicou o aumento das chances de cura, uma vez que esses novos recursos terapêuticos ajudam a evitar o retorno de cânceres tratados cirurgicamente ou com radioterapia.

Mais novidades estão por vir, tendo em vista o elevado número de pesquisas clínicas atualmente em curso em todo o mundo, inclusive algumas lideradas pela BP. Envolvendo tanto imunoterapia quanto terapia-alvo, esses estudos estão buscando e testando novos remédios ou novas formas de usá-los.

Radioterapia

O enfrentamento do câncer de pulmão também deu importantes saltos de qualidade e precisão com os avanços tecnológicos da radioterapia, um tratamento não invasivo. Nessa área, merecem destaque o emprego da radioterapia estereotáxica fracionada corpórea (SBRT/Sterotactic Body Radio Therapy), também chamada de radiocirurgia de pulmão, apesar de prescindir de cortes ou de acessos venosos; e a radioterapia com intensidade modulada (IMRT).

A primeira era inicialmente empregada apenas no tratamento de tumores cerebrais. Agora passou a ser muito utilizada no tratamento de tumores de pulmão ainda em fases iniciais, consolidando-se como alternativa no caso de pacientes que não podem ou não querem fazer cirurgia.

Com o auxílio dos novos equipamentos de imagem e dos softwares de planejamento de radioterapia, tornou-se possível aplicar doses elevadas de radiação nos tumores, poupando os tecidos saudáveis vizinhos em um órgão tão sensível como o pulmão, que está sempre se movimentando.

Além da indicação para tumores em fases iniciais, a radioterapia estereotáxica fracionada vem sendo usada com sucesso no enfretamento de tumores metastáticos em alguns pacientes selecionados que possuem poucas metástases. Em alguns casos, ela consegue até a eliminação definitiva dessas lesões.

Para os tumores maiores, os benefícios estão sendo colhidos com a radioterapia com intensidade modulada, outra técnica de administração de altas doses de radiação em alvos definidos. Esse recurso permite modular os feixes de radiação por meio de lâminas instaladas dentro do aparelho de radioterapia e controladas por softwares de planejamento, fazendo com que a radiação se concentre mais sobre determinados alvos enquanto preserva os tecidos adjacentes. Doses maiores incidem sobre os tumores e doses residuais nas estruturas próximas.

De um modo geral, esses avanços diminuíram muito os efeitos colaterais dos tratamentos radioterapêuticos, que podem ocorrer em regiões muito nobres do corpo, como coração, esôfago e o próprio pulmão. Estudos científicos atuais comprovam sua eficácia.

Hoje, a radioterapia pode ser empregada em todas as fases de tratamento do câncer de pulmão. Além de uma alternativa à cirurgia nos casos de tumores iniciais, ela é usada em conjunto com quimioterapia com finalidade curativa em tumores que não podem ser operados e também aliviar sintomas em pacientes metastáticos com sangramentos, dores e obstrução de vias aéreas e digestivas. Para pacientes com número limitado de metástases, assim chamados oligometastáticos, ela é usada para garantir um controle mais duradouro dos tumores.

Para o futuro, pesquisas indicam que será cada vez mais promissora a combinação dessas inovações da radioterapia com a imunoterapia tanto para o tratamento de tumores que não podem ser extraídos por cirurgias como tumores iniciais. Depois do sucesso de uso da imunoterapia para a consolidação pós-tratamento com radioterapia, já está sendo testada a utilização simultânea das duas abordagens. Outra novidade corrente é a utilização combinada das radiocirurgias com a radioterapia convencional no tratamento de tumores não operáveis.

Avanços cirúrgicos

No campo cirúrgico, beneficiado com o refinamento dos recursos diagnósticos que permitem a identificação cada vez mais precoce de tumores de pulmão, a novidade está associada ao uso crescente da tecnologia robótica, evolução da cirurgia minimamente invasiva por meio da toracoscopia (cirurgia torácica videoassistida).

Com a tecnologia robótica, já disponível em hospitais de alta complexidade como a BP, as cirurgias são realizadas com cortes menores e contribuem para menos dores no pós-operatório, menor impacto estético, internações mais curtas e recuperação mais rápida do paciente. Além da indicação para o tratamento de tumores iniciais, a cirurgia robótica também se mostrou uma alternativa eficiente para extração de tumores localmente avançados, ou seja, tumores que, embora maiores, ainda não se disseminaram para outras partes do pulmão ou do corpo.

No que depender dos cientistas e médicos, inclusive os da BP, outras novidades estão por vir, levando a um futuro cada vez mais promissor em que inovação tecnológica, medicina personalizada e atendimento humanizado aos pacientes se combinam para vencer o câncer de pulmão.

Fontes: : William Nassib William Junior - CRM/SP 104.421; Livia Alvarenga Fagundes Ferrigno - CRM/SP 118.433; Paulo Manuel Pego Fernandes - CRM/SP 45.214

Data de produção: 04/07/2022

Data da última atualização: 06/07/2022