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O que fazer quando o câncer de ovário volta após o tratamento?

Novos medicamentos e abordagens trazem melhores resultados e mais qualidade de vida para as pacientes.

Vencida a primeira batalha contra o câncer de ovário, o retorno da doença é uma indesejável ocorrência que, evidentemente, impacta fortemente as pacientes. Mas não é hora de desistir, pois são muitos os avanços da medicina que permitem, hoje, um bom controle da doença, com melhores resultados, aumento da sobrevida e mais qualidade de vida para essas mulheres.

O câncer de ovário tem como principal complicador a falta de um exame de rastreamento eficiente, que permita que seja detectado no início. Em 75% a 80% dos casos, ele acaba sendo descoberto já em fase avançada (estágios 3 e 4), quando a área afetada costuma ser maior e o câncer já pode ter atingido outros órgãos (metástases). Nessa fase, a chance de cura é de 20% a 25%, e a maioria das pacientes terá reincidência do tumor, geralmente na cavidade abdominal, principalmente no peritônio, membrana que reveste o interior do abdômen (abrangendo órgãos como intestino, fígado, estômago e ovários, entre outros). Gânglios da região também podem ser afetados pelas células cancerígenas.

A boa notícia é que novas abordagens e medicamentos evoluem rapidamente, com benefícios importantes para as pacientes que têm de enfrentar a volta do câncer.

Pouco comum há cerca de dois anos, a cirurgia para retirada do tumor é atualmente parte importante da estratégia de tratamento da recidiva. Estudos como os realizados na Alemanha e na China comprovaram que iniciar a terapia com cirurgia para retirada de todas as células cancerígenas, seguindo com sessões de quimioterapia e outros novos medicamentos, traz melhores resultados em termos de tempo sem a doença e sobrevida em comparação com a abordagem sem cirurgia. Outro ganho é evitar complicações, como uma possível obstrução intestinal pelo tumor, o que exigiria uma cirurgia de emergência mais arriscada, além de exigir uma colostomia (desvio do curso do intestino para a parede do abdômen, onde é colocada uma bolsa para coletar as fezes).

Os ganhos dessa abordagem se referem a casos em que é possível retirar todo o câncer no procedimento. Para garantir assertividade na indicação cirúrgica, é fundamental a avaliação prévia por meio de exames de imagem de alta definição, que devem ser realizados em serviço de radiologia equipados com avançadas tecnologias. Além disso, antes do corte da cirurgia aberta, é feita uma avaliação por videolaparoscopia da cavidade abdominal para confirmar que todo o tumor poderá ser retirado. Depois da cirurgia, o tratamento prossegue com sessões de quimioterapia para retardar um possível retorno da doença.

Pacientes com recidiva do câncer que não podem ou não têm indicação para a cirurgia são tratadas com quimioterapia à base de platina ou cisplatina, que costuma ter boa eficácia. Pode ocorrer, em alguns casos, que a quimioterapia de platina perca a eficiência. Nesse cenário a estratégia é optar por outros quimioterápicos para obter o efeito desejado.

Um importante salto evolutivo foi a chegada dos inibidores de Parp (olaparibe e niraparibe), medicamentos orais também conhecidos como terapia-alvo, que agem diretamente no DNA da paciente que teve o câncer originado por uma mutação genética, principalmente nos genes BRCA 1 e BRCA 2. Eles também podem ser utilizados em pacientes mesmo na ausência de mutações genéticas. Sua administração ocorre posteriormente à quimioterapia e se mantém como uma terapia de manutenção, que visa controlar o retorno do tumor.

Outra medicação que há alguns anos se mantém muito usada no câncer de ovário que apresenta recidiva é o bevacizumabe. Também chamado de droga-alvo, esse medicamento tem a ação de aumentar a eficácia da quimioterapia. Ele é administrado em conjunto com a quimioterapia e, posteriormente, para manutenção e controle, com intuito de reduzir o tempo de retorno e a evolução do tumor. Outras drogas, como a imunoterapia, já muito utilizadas em diversos tumores, ainda não usadas na prática no câncer de ovário e estão sendo avaliadas em pesquisas.

Esses novos medicamentos, juntamente com a realização de cirurgia capaz de retirar todo o tumor nos casos de recidiva, têm mudado o prognóstico dessas pacientes, ampliando a sobrevida e o tempo sem retorno da doença. São inovações muito bem-vindas e que não devem parar por aí. Pesquisas em desenvolvimento em diversos centros médicos do mundo todo devem resultar em novos avanços e novas armas para enfrentar tanto o câncer de ovário primário como aquele que retorna depois do tratamento.

Fontes: Graziela Zibetti Dal Molin – CRM/SP 147.913, José Carlos Sadalla – CRM/SP 97.419

Data da última atualização: 31/03/2022