O câncer colorretal tem alta incidência no Brasil: é o terceiro mais comum na população em geral, atrás dos tumores de próstata e de mama. Apesar da tendência de queda no número de casos novos e mortes na população geral, entre os jovens espera-se uma elevação dessas ocorrências, segundo um estudo publicado na revista científica JAMA (JAMA. 2019;321(19):1933).
Na grande maioria dos pacientes (80%), o câncer colorretal é diagnosticado em fases iniciais. Entretanto, em cerca de 20% dos casos, o diagnóstico acontece com a doença no estágio 4, quando já há metástases, ou seja, o câncer se espalhou para outros órgãos. A disseminação geralmente acomete fígado, pulmão ou peritônio (membrana que reveste os órgãos abdominais).
Novas terapias e abordagens vêm contribuindo para um significativo progresso no tratamento do câncer colorretal avançado, com melhores resultados na redução dos tumores e controle da doença, inclusive com possibilidade de cura mesmo em casos avançados. Além disso, essas novas terapias geram menos efeitos colaterais em comparação com a quimioterapia.
Embora no momento esses novos tratamentos sejam aprovados para casos de doença metastática, já existem estudos avaliando a eficácia em fases mais iniciais.
Entre as novidades, está o pembrolizumabe, um medicamento da classe dos imunoterápicos, que são aqueles que estimulam o próprio sistema imunológico do paciente a combater as células cancerígenas. O pembrolizumabe é indicado como primeira linha de tratamento para pacientes com câncer colorretal metastático que têm uma mutação genética específica em um gene (deficiência de proteínas de reparo do DNA). Essa medicação tem mostrado bons resultados na redução do tumor e no controle da doença, além de aumentar a chance de cura de alguns casos.
Outra frente de avanços vem da terapia-alvo, com medicamentos que agem em mutações genéticas desencadeadoras do câncer. Eles também vêm se mostrando eficientes no tratamento, com elevadas taxas de controle da doença em alguns casos. Já existem terapias destinadas para pacientes com tumores que apresentam alterações moleculares nos genes HER2 e BRAF (presentes em aproximadamente 5% e 10% dos pacientes, respectivamente). Atualmente, o medicamento sotorasibe, que é utilizado para tratar câncer de pulmão, está sendo estudado no tratamento do câncer colorretal avançado com mutação no gene KRASG12C, com resultados promissores.
Esses avanços se somam à terapia personalizada, abordagem que possibilita uma análise mais aprofundada e detalhada das características moleculares dos tumores, auxiliando o médico na escolha do tratamento com maior chance de melhores resultados.
No campo de diagnósticos, a novidade mais promissora é a biópsia líquida. Esse exame, realizado a partir de uma amostra simples de sangue, tem o potencial de permitir a identificação de células cancerígenas ou traços do DNA do câncer circulando no sangue do paciente. Assim, seria possível identificar precocemente recidivas dos tumores, aumentando as chances de sucesso no tratamento. No Brasil, a biópsia líquida está disponível apenas em situações específicas para o câncer de intestino e, atualmente, não é coberta pelos planos de saúde.
Os avanços devem se intensificar nos próximos anos, aprofundando o conhecimento acerca das características moleculares dos tumores, descobrindo terapias-alvo para outras mutações genéticas e evoluindo no tratamento personalizado por estudo molecular. Espera-se, também, a expansão do uso das novas terapêuticas para tumores em fases iniciais.
Evidentemente, progressos nos tratamentos são muito bem-vindos. Mas igualmente importante é investir no autocuidado e, a partir dos 45 anos, realizar periodicamente a colonoscopia. Esse exame permite identificar e remover pólipos que poderiam evoluir para câncer e também diagnosticar tumores em fases mais iniciais. Trata-se, portanto, de prevenir um câncer ou descobri-lo em uma etapa quando as chances de cura são bem maiores.
O Hospital BP ampliou o Centro de Oncologia e Hematologia. O novo modelo cancer center permite tratamento integral que vai desde o rastreio até a reabilitação pós-tratamento de pacientes oncológicos.
Fonte: Ricardo Saraiva de Carvalho CRM 132389
Data da última atualização: 02/05/2022