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O que são linfócitos e qual a ligação com os linfomas?

Células de defesa do nosso organismo, os linfócitos podem sofrer mutações e levar ao desenvolvimento de cânceres do sistema linfático. Hoje, a maioria deles pode ser curada ou controlada.

Os linfócitos são parte de um grupo de células chamadas leucócitos (glóbulos brancos) que integram o nosso sistema imunológico, combatendo agentes agressores que podem causar infecções. No entanto, quando eles sofrem mutações e passam a crescer e se multiplicar de maneira anormal, geram linfomas, que são cânceres do sistema linfático. Em alguns casos, os linfócitos perdem a capacidade de morrer, o que impede o desaparecimento natural dessas células e atrapalha o processo de renovação celular. Assim, o volume de células doentes forma uma massa tumoral. Existem muitos tipos de linfomas, associados aos diferentes tipos e subtipos de linfócitos, que variam de acordo com a função no combate aos micro-organismos invasores e com o estágio de maturidade das células.

Os dois grandes grupos de linfócitos são:

  • Linfócitos B: células que produzem os anticorpos que combatem agentes estranhos ao nosso corpo e também são responsáveis pela nossa memória imunológica. Após sermos vacinados contra certos vírus e bactérias, são alguns subtipos de linfócitos B que ficam responsáveis por reconhecer esses invasores e produzir as proteínas que podem neutralizá-los. A produção anormal de linfócitos B está associada a 90% dos linfomas.
  • Linfócitos T e NK: representando 10% dos linfomas, essa família de linfócitos reconhece todas as proteínas que nos constituem e todos os tipos de células que formam nosso corpo. Quando identificam elementos estranhos (micro-organismos, células tumorais e até órgãos, como no caso dos transplantes), eles acionam os linfócitos B, que ficam encarregados de produzir os anticorpos que irão destruir o corpo estranho. Os linfócitos NK, conhecidos como células natural killer, também têm papel importante no combate a infecções virais e células tumorais, oferecendo respostas imediatas para o organismo, sem necessitar de muitas interações com outros tipos de células de defesa ou mediações químicas. Apesar de mais raros, os linfomas associados a mutações nesses tipos de linfócitos são geralmente mais graves.

Linfomas de Hodgkin e não Hodgkin

Os múltiplos tipos de linfomas são agrupados em dois grandes segmentos: linfoma de Hodgkin e linfoma não Hodgkin. Com comportamentos, sintomas e graus de agressividade diferentes, a distinção entre eles leva em conta as características formais das células doentes.

  • Linfoma de Hodgkin: é caracterizado pela presença de células grandes e facilmente identificáveis, chamadas células de Reed-Sternberg. Ele se espalha pelo corpo de uma forma ordenada e previsível. Quanto menos disseminado, melhor é o prognóstico. É curável em 90% dos casos quando diagnosticado nas fases iniciais e em 50%-70%, nas fases avançadas.
  • Linfoma não-Hodgkin: não apresenta um padrão celular definido e a progressão da doença também não é ordenada. Os graus de malignidade são divididos em alto, intermediário e baixo. O baixo grau, caracterizado pelo crescimento indolente das células doentes, geralmente não tem cura, apenas controle. Paradoxalmente, as chances de cura aumentam no caso dos linfomas não-Hodgkin de alto grau de malignidade.

A radiação é um fator de risco para desenvolvimento de linfomas, mas também há outros: pacientes imunossuprimidos por conta de transplantes, doenças autoimunes (lúpus, síndrome de Sjogren, artrite reumatoide, etc.), infecções virais ou bacterianas (HIV, HTLV, HHV 8, hepatite C e a bactéria Helicobacter pylori, por exemplo), exposição a substâncias cancerígenas (como xileno, tolueno, benzeno e alguns agrotóxicos) e histórico familiar.

O primeiro sinal da doença costuma ser o aparecimento de um ou mais caroços indolores (gânglios linfáticos aumentados), geralmente no pescoço, axilas e virilha. Com o tempo, eles começam a se espalhar para outras áreas do corpo. Em estágios mais avançados, podem ocorrer perda de apetite, emagrecimento inexplicável (perda de 10% do peso num período de seis meses), febrícula (entre 37 e 38 graus centígrados) que surge geralmente no final da tarde e começo da noite e desaparece espontaneamente ao longo da madrugada e suor intenso ao ponto de deixar a roupa de cama molhada (sudorese noturna). Outros sintomas são fadiga, falta de ar e dor no peito.

A biópsia ou extração cirúrgica preferencial de um gânglio linfático para análise em laboratório é o principal recurso para diagnosticar o linfoma e identificar o subtipo, condição indispensável para o planejamento e sucesso do tratamento do paciente. Para avaliar a extensão e a gravidade, os médicos podem solicitar a realização de exames de imagem (tomografia computadorizada, PET-CT, ultrassonografia), análise de medula óssea e testes bioquímicos.

Tratamentos

A quimioterapia é o recurso de tratamento mais empregado, com alto potencial de cura. Existem vários tipos de medicamentos usados na quimioterapia, com mecanismos de ação específicos e que podem ser administrados isoladamente ou de maneira combinada.

Em alguns casos, a quimioterapia pode ser complementada ou até substituída pela radioterapia, baseada na aplicação de radiação nas áreas afetadas pelo linfoma, que é bastante sensível à radioterapia. A combinação da quimioterapia e radioterapia permite diminuir as doses dessas terapias, ajudando a controlar os efeitos colaterais de ambas.

Mais recentemente, novas tecnologias terapêuticas vêm sendo adotadas com sucesso, como a imunoterapia com ação alvo-dirigida. Nesse caso, juntamente com a quimioterapia, são prescritos medicamentos (como rituximabe, alemtuzumabe e brentuximabe, entre vários outros) capazes de produzir determinados efeitos na estrutura molecular (proteínas específicas das células tumorais), desorganizando-as e causando a destruição dessas células. Há ainda imunoterápicos como o nivolumabe e o pembrolizumabe, que bloqueiam a ação de uma proteína que as células tumorais produzem, facilitando que o sistema imunológico as identifique e as elimine. Anteriormente reservada para casos de reincidência ou resistência da doença, hoje a imunoterapia vem sendo estudada e adotada em alguns casos como primeira escolha de tratamento, muitas vezes em associação com a quimioterapia.

O transplante de medula óssea é reservado para pacientes que não responderam à estratégia terapêutica inicial ou apresentaram recidiva (retorno da doença) após o tratamento.

O que vem por aí

A nova promessa no tratamento de linfomas é a terapia com CAR T-Cells. Fruto da combinação da terapia gênica com terapia celular e imunoterapia, essa inovadora frente terapêutica está baseada na reprogramação genética em laboratório dos linfócitos T do paciente. Por meio de leucoaférese (procedimento que permite separar e retirar linfócitos do sangue), os linfócitos T dessa coleta são retirados, sendo realizadas mudanças na programação genética dessas células a fim de habilitá-las a reconhecer e aniquilar o linfoma. Depois de multiplicadas em laboratório, são reintroduzidas na corrente sanguínea do paciente para fazer o trabalhado curativo. Os estudos com CAR T-Cells têm apresentado resultados animadores. Mas, além de ser bastante caro, esse tipo de terapia ainda não foi aprovado no Brasil. Ainda assim, aponta caminhos que a ciência vem trilhando rumo a tratamentos cada vez mais personalizados dos linfomas e que ampliam as possibilidades de cura.

Fonte: Roberto Buessio – CRM 51.734 SP

Data da última atualização: 1/6/2021