O linfoma de Hodgkin – câncer que afeta os linfócitos, células de defesa do nosso organismo localizadas principalmente nos gânglios – é o tipo de linfoma menos frequente e também o mais curável. A cada dez casos, oito são do tipo não Hodgkin e apenas dois são de Hodgkin. No total, cerca de 85% dos pacientes deste último grupo ficam livres da doença com quimioterapia, associada ou não a radioterapia. Quando mais cedo a enfermidade é detectada, maiores são as chances de cura.
Porém, há casos de recidiva, ou seja, quando o câncer retorna após uma boa resposta ao tratamento inicial; e casos refratários, quando a doença não responde às terapias ou, se responde, regressa de forma muito rápida. A recidiva ou a resistência ao tratamento podem ocorrer em até 30% dos pacientes diagnosticados em fases avançadas.
Opções nos casos de retorno da doença
Para alguns casos em que a doença regressa ou é refratária, pode ser indicado o transplante de células-tronco hematopoiéticas, conhecido popularmente como transplante de medula óssea, após a realização de quimioterapia, com ou sem imunoterapia. O transplante utiliza as células-tronco (tipo de células que dão origem a todas as células) que estão direcionadas para produção de células sanguíneas, como os glóbulos vermelhos, brancos e plaquetas.
As células-tronco são extraídas do sangue do próprio paciente ou de um doador para serem reinjetadas na corrente sanguínea da mesma forma que uma transfusão de sangue. Isto ocorre depois que as células doentes foram eliminadas em sessões de quimioterapia. Essas células retornam para a medula óssea e produzem novas células sanguíneas.
Em casos com maior risco de recaída após o transplante, os pacientes devem receber um medicamento preventivo durante um ano, o anticorpo monoclonal associado a medicação que ataca alvos específicos dos linfócitos. Isso é muito importante para reduzir ainda mais o risco de um novo retorno.
Para pacientes que não podem fazer o transplante, além de quimioterapia (que é menos eficaz do que da primeira vez em que é usada), surgiu nos últimos anos uma alternativa que corresponde à imunoterapia. Nesta classificação, há duas novas classes de medicações: os já citados anticorpos monoclonais e os inibidores de checkpoint (ou inibidores de PD1), medicamentos que estimulam o sistema imunológico do paciente a reagir contra os linfócitos doentes. Essas duas opções, particularmente os inibidores de checkpoint, também estão sendo aplicadas nos casos de recidiva da doença após o transplante.
Considerando os excelentes resultados obtidos com os inibidores de checkpoint, os especialistas no Brasil estão discutindo atualmente se eles já devem ser usados como segunda opção de tratamento nos linfomas de Hodgkin recidivados ou refratários, a serem aplicados antes mesmo do transplante de células-tronco. Essa prática é cada vez mais comum nos Estados Unidos e Europa Ocidental. Todavia, inibidores de checkpoint (que também são usados no enfrentamento de outros cânceres) ainda não estão disponíveis no Sistema Único de Saúde (SUS) para tratamento do linfoma, embora já estejam aprovados para uso no país pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). As sociedades médicas já estão pleiteando sua inclusão.
Esses avanços medicamentosos aumentam ainda mais as chances de cura do linfoma de Hodgkin, uma doença que tem como sintoma clássico o aumento indolor de gânglios no pescoço ou axilas por mais de 15 dias e, no Brasil, é mais comum em pessoas entre 35 a 40 anos. São conquistas ainda mais fundamentais para os pacientes que não reagem positivamente ao primeiro tratamento, especialmente aqueles que não podem ser submetidos ao transplante de células-tronco. Se a doença já era altamente curável, esses medicamentos chegaram para beneficiar um número cada vez maior de pessoas e melhorar ainda mais o seu prognóstico.
Fonte: Danielle Leão Cordeiro de Farias - CRM/SP 94.841
Data da última atualização: 11/10/21