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Quais são os últimos avanços no tratamento do câncer de ovário avançado?

Novos medicamentos têm contribuído para um melhor controle da doença e redução dos casos de retorno do tumor

Apesar de raro, o câncer de ovário assusta pela agressividade em grande parte dos casos, desenvolvendo-se rapidamente e espalhando-se por outros órgãos (metástase). Além disso, como não temos ainda uma estratégia cientificamente comprovada de rastreamento eficaz para o diagnóstico precoce, na maioria das vezes a doença é descoberta em estágios mais avançados. Com os tratamentos disponíveis até pouco tempo – cirurgia e quimioterapia – o risco da doença retornar em três anos variava entre 60% e 70% e apenas metade das pacientes sobrevivia após cinco anos.

Esse cenário sombrio, no entanto, vem mudando. Nos últimos cinco anos, com o advento das chamadas terapias-alvo, viu-se uma verdadeira revolução, que abre perspectivas bem mais animadoras. Esses medicamentos atuam diretamente nas células cancerígenas, impedindo o seu desenvolvimento.

Medicações dessa classe, chamadas de inibidores de PARP, já são utilizadas com sucesso no tratamento de tumores de mama e de próstata. Para o câncer de ovário, a indicação é para casos avançados, em estágios 3 e 4, que constituem cerca de 70% dos diagnósticos.

Inicialmente, a terapia-alvo era restrita às mulheres com câncer de ovário associado a mutações nos genes BRCA 1 e BRCA 2 (também relacionados ao câncer de mama), que representam cerca de 30% dos casos. Atualmente, esse avanço foi estendido para pacientes com outros tipos de alterações genéticas, também com bons resultados.

No Brasil estão aprovados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) dois inibidores de PARP: o olaparibe e o niraparibe, administrados por via oral e de uso constante. Eles são utilizados como tratamento de manutenção, para evitar o retorno do câncer após a quimioterapia, e também podem ser indicados para casos de recidiva (retorno do câncer), após novas sessões de quimioterapia.

Os desfechos de casos tratados com os novos medicamentos têm sido animadores, com redução significativa do retorno do tumor maligno. Trata-se de uma terapia recente, mas que já mostra aumento da sobrevida sem progressão da doença em pacientes com tratamento de manutenção, sem retorno do câncer, e para casos recém-diagnosticados em estágio avançado, após a quimioterapia.

Também estão em andamento – ainda sem resultados conclusivos – estudos clínicos com o medicamento bevacizumabe (um anticorpo monoclonal, que impede o crescimento dos vasos sanguíneos que alimentam o tumor) em combinação com outros tratamentos, como a imunoterapia (medicamentos que estimulam o próprio sistema imunológico a combater o tumor). Aplicada isoladamente, a imunoterapia não tem efeitos significativos contra o câncer de ovário, mas conjuntamente com opções terapêuticas, como a quimioterapia ou os inibidores de PARP, pode ser uma alternativa, também em avaliação atualmente.

Todos esses avanços no campo dos medicamentos têm potencial para transformar uma doença altamente agressiva e letal em um mal crônico indolente (de crescimento lento e sem metástase), ou seja, uma doença passível de ser controlada, mantendo a qualidade de vida da mulher.

Essas novidades são muito bem-vindas, mas não custa destacar: como na maioria dos tumores, as chances de cura do câncer de ovário aumentam quando diagnosticado em fases iniciais. Por isso, como ainda não existe um exame de rastreamento eficaz, é extremamente importante manter a rotina de consultas regulares ao ginecologista e prestar atenção em sintomas que podem estar associados à doença. Dores abdominais, aumento de volume ou inchaço do abdome e mudanças no hábito intestinal são alguns dos sinais que recomendam agendar rapidamente uma ida ao ginecologista.

Fonte: Graziela Dal Molin – CRM 147.913

Data da última atualização: 17/12/2021