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Pesquisas científicas revolucionam o tratamento do mieloma múltiplo

Focados na eliminação de células afetadas pelo câncer, medicamentos imunoterápicos e terapia com células CAR-T estão entre as mais recentes inovações terapêuticas para essa doença do sangue.

O mieloma múltiplo é um câncer hematológico que se desenvolve a partir de mutações genéticas que ocorrem em um tipo específico de célula existente na medula óssea: os plasmócitos, responsáveis pela produção dos anticorpos que nos protegem de infecções por vírus e bactérias. É essa especificidade que diferencia o tratamento do mieloma múltiplo de outras doenças do sangue. O objetivo é eliminar as células doentes que fabricam anticorpos defeituosos que fragilizam o sistema autoimune, dificultam a produção de outras células saudáveis do sangue, causam danos nos ossos e podem levar à insuficiência renal.

Outras enfermidades oncohematológicas têm mecanismos de desenvolvimento associados a vários tipos ou subtipos de células, o que implica diferenciações no tratamento. No caso do linfoma, por exemplo, existem mais de 60 subtipos celulares que podem determinar diferentes vias de tratamento.

O tratamento do mieloma múltiplo é um dos mais beneficiados pelos avanços da medicina dos últimos cinco anos, chegando ao ponto de a quimioterapia usada para atacar os plasmócitos doentes estar sendo cada vez menos utilizada em todas as fases do tratamento, particularmente na etapa que antecede o transplante autólogo de medula óssea (que utiliza as células-tronco do próprio paciente), procedimento que só pode ser realizado em indivíduos com bom quadro clínico, quase sempre com idade de até 75 anos. Os demais pacientes vêm sendo tratados apenas com novas classes de medicamentos, como os inibidores de proteassoma, substância bastante ativa nas células do mieloma; os imunomoduladores, que agem no sistema imunológico estimulando a destruição das células doentes; e os anticorpos monoclonais, proteínas produzidas em laboratório com o objetivo de agir em um alvo molecular específico das células tumorais.

No transplante autólogo, células-tronco do paciente são extraídas e armazenadas. Na sequência, são aplicadas altas doses de quimioterapia para destruir os plasmócitos doentes. Depois, as células-tronco armazenadas são devolvidas ao paciente por via intravenosa para se multiplicarem e refazerem o sistema imune.

Apesar de ser a intervenção mais efetiva para tratar o mieloma, o transplante de medula óssea acaba restrito a cerca de 40% dos pacientes com a doença, tornando ainda mais urgente o desenvolvimento de novos tipos de medicamentos e técnicas terapêuticas. E é isso que vem ocorrendo.

Imunoterápicos biespecíficos e terapia com células CAR-T

Todos os pacientes, candidatos ou não ao transplante, estão obtendo ótimos resultados com a utilização de novas classes de medicamentos. Entre os destaques estão os imunoterápicos biespecíficos, substâncias sintetizadas em laboratório parecidas com as fabricadas pelo organismo (anticorpos), que estimulam o sistema autoimune do paciente a atacar e suprimir os plasmócitos doentes.

Esses anticorpos sintéticos funcionam como conectores, ligando os linfócitos T (células de defesa do nosso organismo) com as células doentes. Com isso, ajudam o próprio organismo a eliminá-las, sem os efeitos colaterais associados aos quimioterápicos.

Ainda não se pode falar sobre cura porque falta tempo para o seguimento estatístico. Ninguém está utilizando esses novos medicamentos por mais de dez anos. No entanto, os resultados observados nos estudos até aqui são extraordinários, com eficácia no controle da doença de 50% a 80% em pacientes que já haviam sofrido com falhas em outros tratamentos.

Os avanços não param por aí. Já foi aprovado, inclusive no Brasil, o tratamento do mieloma múltiplo com terapia com células CAR-T, modalidade terapêutica que combina terapia celular com engenharia genética a fim de transformar os linfócitos T do próprio paciente em um exército microscópico que vai combater a doença em nível celular. Os linfócitos T são extraídos, modificados geneticamente em laboratório para identificar e eliminar os plasmócitos indesejados, multiplicados e reinseridos no corpo do paciente para combater a doença.

A BP inicia ainda este ano um estudo clínico do tratamento do mieloma múltiplo a partir da terapia com células CAR-T. Também estão em curso protocolos de pesquisa com o uso de biespecíficos, garantindo que a BP continue na vanguarda do tratamento dessa doença.

Fonte: Phillip Scheinberg - CRM/SP 87.226/ Danielle Leão Cordeiro de Farias – CRM/SP 94.841

Dara da última atualização: 19/04/2023