O câncer de pulmão é o segundo tipo de tumor mais comum em homens e mulheres, com 30.200 novos casos por ano no Brasil, segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca), e a incidência aumenta bastante após os 70 anos de idade. A taxa de sobrevida em cinco anos é de 18%, índice que poderia aumentar se tivéssemos mais diagnósticos precoces. Hoje, em nosso País, apenas 16% dos tumores de pulmão são diagnosticados em fase inicial. É um quadro que mostra a importância do rastreamento regular, principalmente em pacientes de alto risco, como os fumantes.
O tabagismo é o principal fator de risco para o câncer de pulmão, incluindo cigarro, charuto, cachimbo e o fumo passivo. Parar de fumar reduz em 80% a 90% o risco depois de 15 anos de cessação. Cigarro eletrônico, maconha e consumo de cocaína também têm impacto, embora ainda não estimado cientificamente.
Cerca de 20% dos pacientes com câncer de pulmão nunca fumaram, mas com certeza foram expostos a outras condições de risco. Doenças pulmonares inflamatórias, como fibrose pulmonar, e doenças pulmonares obstrutivas crônicas (DPOC), como bronquite e enfisema, são fatores que predispõem a esse tipo de câncer, assim como ter feito radioterapia da região torácica anteriormente.
Também oferece risco a exposição a agentes como o gás radônio (que se origina de substâncias radioativas encontradas naturalmente no solo, água e em rochas de algumas localidades); poluição, principalmente gerada pela fumaça do diesel; fumaça de cozimento e aquecimento oriunda da queima de madeira ou carvão; e pó de amianto (usado, por exemplo, em telhas, e atualmente proibido no Brasil), entre outros. O risco fica potencializado quando esses fatores ambientais se somam ao tabagismo.
Há, ainda, a herança genética, que pode estar presente em quem tem história familiar de câncer de pulmão, especialmente parentes que não eram fumantes, ou em quem já tenha tido outros tumores malignos. A mutação genética mais associada ao tumor de pulmão é a TP53, que pode ser relacionada ao câncer precoce em pacientes com menos de 40 anos.
Rastreamento com tomografia computadorizada de baixa dose (TCBD)
Quanto maior o tempo e a carga de exposição às condições ambientais, maior o risco de ter o câncer. No fumante, a probabilidade é medida pela carga tabágica, que considera idade, quantidade e tempo de tabagismo. A definição de qual a população idealmente deve ser submetida a programas de rastreamento do câncer de pulmão com tomografias de baixa dose ainda é foco de estudos na literatura. A recomendação atual engloba indivíduos com idade entre 50 e 80 anos, com carga tabágica de pelo menos 20 anos-maço (por exemplo, pessoas que fumaram o equivalente a um maço ou 20 cigarros por dia durante 20 anos ou dois maços ao dia durante 10 anos), que ainda são fumantes ou ex-tabagistas que tenham parado de fumar há, no máximo, 15 anos. Esse é o público que precisa ser foco de programas de rastreamento que possibilitam descobrir a doença em fase inicial, aumentando as chances de sucesso no tratamento.
Um importante avanço veio em 2011 com o estudo National Lung Cancer Trial NLST, realizado nos Estados Unidos, que comprovou que a realização anual da tomografia computadorizada de tórax com baixa dose de radiação reduz em 20% a mortalidade por câncer de pulmão. Esse tipo de tomografia permite detectar o tumor em estágio inicial, quando há mais opções de tratamento e maior chance de cura, inclusive para os mais agressivos. O exame de raios-X, até então utilizado para o rastreamento, muitas vezes só detecta o tumor em fase mais avançada. Outro estudo sobre rastreamento de câncer de pulmão, conhecido como Nelson Trial, ratificou a constatação de redução da mortalidade pelo rastreamento com TCBD com análise em longo prazo.
A evidência científica levou à recomendação de realizar anualmente a tomografia de baixa dose em pacientes do grupo considerado de alto risco. Esse acompanhamento periódico permite perceber o surgimento ou o crescimento de um nódulo e, em seguida, aprofundar a investigação.
Além disso, há outros benefícios na realização da TCBD. Esse tipo de tomografia possibilita a detecção de outros achados incidentais pulmonares, como a fibrose e o enfisema; e extrapulmonares, como nódulos tireoidianos ou hepáticos e, especialmente, alterações cardiovasculares, como calcificações valvares e coronarianas, levando também à redução da mortalidade por causas não relacionadas ao câncer de pulmão.
Um achado positivo na TCBD não significa necessariamente que o indivíduo tem câncer. Para confirmar o diagnóstico, o paciente pode precisar realizar outros exames, como tomografia computadorizada com contraste, ressonância magnética ou PET-CT, finalizando com biópsia para coleta de amostra a ser analisada em laboratório para avaliar a presença de células cancerígenas no caso das lesões suspeitas. Dependendo da localização do nódulo, a biópsia pode ser feita por broncoscopia (tubo com câmera introduzido pela boca ou nariz) ou por punção transcutânea (através da pele) em procedimento guiado por imagem de tomografia. O resultado dos exames e da biópsia fornecerá informações importantes para direcionar o tratamento mais indicado em cada caso.
A melhor forma de prevenir o câncer de pulmão é, evidentemente, ficar longe dos fatores de risco, particularmente o cigarro. Mas para quem já se expôs ou continua se expondo a eles é fundamental ter consciência sobre a importância da cessação do tabagismo e do rastreamento. Hoje, a medicina tem recursos valiosos para identificar os tumores em fase mais inicial, um trunfo importante para o sucesso do tratamento. Diagnóstico e tratamento precoces salvam vidas.
Fonte: Suellen Nastri Castro – CRM 151.417 SP; Pablo Rydz Pinheiro Santana – CRM 130.750 SP
Data da última atualização: 31/5/2021