Até 25% dos casos de tumores do intestino (colorretais) estão associados a antecedentes familiares de câncer, ou seja, existe um risco aumentado de desenvolvimento da doença na família. Desse total, cerca de 5% são síndromes cujas alterações genéticas já foram identificadas. Os outros 20% ainda não, embora o histórico familiar da doença indique a influência da bagagem hereditária.
Dentre as síndromes já identificadas, 1% é do tipo que provoca a polipose, caracterizada pelo aparecimento de dezenas, centenas e até milhares de pólipos no intestino grosso. Os outros 4% são síndromes sem polipose, sendo a Síndrome de Lynch a principal desse grupo, que além dos tumores do intestino, está associada ao câncer de endométrio (útero), entre outros. Apesar de menos frequentes, as síndromes com polipose, particularmente as do tipo adenomatosas, quase sempre provocam o câncer, exigindo intervenções cirúrgicas, por exemplo, para a remoção do intestino grosso.
Ter uma síndrome de predisposição ao câncer não significa necessariamente desenvolver a enfermidade. Todavia, coloca esses indivíduos em condição de alerta pelo alto risco, por isso se faz necessário um plano preventivo personalizado, como, por exemplo, evitar fatores de risco ambientais. Como já existe uma predisposição genética constitucional de predisposição à doença, os riscos se somam, com maior chance de desenvolvimento de câncer do que pessoas da população em geral.
A dieta é um dos principais pontos de atenção para diminuição dos riscos ambientais. Se a orientação para os indivíduos de forma geral é o consumo moderado de carne vermelha (até 70 gramas por dia) e evitar os embutidos, conservas, alimentos processados e ultraprocessados (salsicha, mortadela, presunto, salame, carnes processadas), para as pessoas com síndromes de predisposição hereditária ao câncer isso é ainda mais imprescindível. Importante lembrar que o consumo desses tipos de alimentos também está associado a outros tipos de câncer.
Os especialistas suspeitam da existência de uma síndrome de predisposição hereditária ao câncer observando o histórico familiar do paciente, ou seja, quanto mais indivíduos com câncer na família, maior o risco. Outros fatores de suspeição são: câncer em indivíduos jovens (menos de 50 anos); o mesmo indivíduo com mais de um tipo de câncer; diagnósticos de tumores pouco comuns (sarcomas, cérebro). Nessas situações, a investigação do perfil genético individual e familiar pode estar indicada, após aconselhamento genético adequado.
Uma vez constatada uma síndrome de predisposição ao câncer, é crucial o acompanhamento médico preventivo regular. Além da orientação para adoção de um estilo de vida mais saudável; também é planejada uma estratégia personalizada de rastreamento, visando o diagnóstico precoce de câncer.
Considerando que as síndromes de predisposição hereditária ao câncer de intestino não são raras, vale uma dica para todos: observe seu histórico familiar para verificar a existência de casos de câncer ou polipose. Se houver, converse com seu médico para definir uma estratégia de prevenção e detecção precoce. Pessoas sem risco familiar ou pessoal devem iniciar a prevenção do câncer de intestino a partir dos 45 anos de idade. A colonoscopia, que pode detectar a presença de pólipos e tumores precocemente, é um dos principais exames indicados.
Fonte: Benedito Rossi - CRM/SP 45.090
Data da última atualização: 27/1/2022