A prevenção do câncer de próstata deve começar na juventude, premissa ainda pouco difundida no Brasil, onde esse tipo de tumor é o segundo mais comum entre os homens, atrás apenas do câncer de pele não melanoma. Por aqui, já se fala bastante sobre o que os médicos chamam de prevenção secundária das lesões malignas da próstata, isto é, a importância da realização dos exames de rastreamento para a detecção precoce da doença quando ela já está instalada. Mas pouco é dito sobre a prevenção primária, ou seja, as medidas que ajudam a evitar o desenvolvimento do câncer.
Já na adolescência os garotos podem assumir hábitos saudáveis para vida toda que os beneficiarão sempre, mas particularmente na fase madura, quando é mais comum o aparecimento de tumores na próstata. A grande maioria dos casos é diagnosticada em homens acima dos 50 anos.
Alimentação saudável, prática regular de atividades físicas e antitabagismo, por exemplo, agem em qualquer momento da vida sobre os principais fatores de risco modificáveis do câncer de próstata: sedentarismo, obesidade e síndrome metabólica (problema que tem como condição de base a resistência à insulina). Quanto mais cedo as práticas saudáveis forem incorporadas à rotina dos homens, maiores as chances de elas serem contínuas e duradouras.
Essas medidas também ajudam a prevenir problemas de disfunção sexual, seja em indivíduos com ou sem câncer de próstata. Nos pacientes oncológicos, verifica-se que a disfunção erétil ocorre com menos frequência como um efeito colateral do tratamento naqueles que têm uma vida mais ativa e saudável.
Por trás dessa reorientação educacional está a necessidade de dissolver uma ideia distorcida que paira sobre a sociedade brasileira: a de que o cuidado com a saúde urológica masculina só começa por volta dos 50 anos, idade em que as sociedades médicas do país preconizam o início do rastreamento com o exame de próstata. Além de somar importantes pontos à saúde dos homens, a valorização de uma cultura de autocuidado desde a juventude também aproxima esse público dos médicos, ajudando a acabar com uma prática comum no público masculino: só procurar ajuda médica em situações de urgência e emergência.
É importante que os homens possam contar desde cedo com suporte médico para, junto de profissionais preparados, traçarem um plano de acompanhamento da saúde desenhado de acordo com as necessidades de cada paciente. Ou seja, a periodicidade de consultas e os tipos de exames a serem realizados serão definidos de forma individualizada, levando em conta idade e condições clínicas de cada pessoa.
Do ponto de vista oncourológico, da adolescência até por volta os 40 anos, a atenção estará mais focada no câncer de testículo, tumor mais prevalente entre os mais jovens. Após os 50 anos, torna-se imprescindível o rastreio do câncer de próstata por meio do exame de toque retal, que deve ser acrescido de outros recursos, como dosagem de PSA (sigla em inglês para Antígeno Específico da Próstata) e exames de imagem.
O rastreamento a partir de 40 anos é indicado para homens obesos ou acima do peso, de descendência negra e com histórico familiar associado ao câncer de próstata, uma vez que a presença da doença em pelo menos um parente aponta para a possibilidade de influência genética. Cerca de 10% dos pacientes têm tumores adquiridos hereditariamente, comprovados por meio dos painéis genéticos utilizados exclusivamente para estabelecer tratamentos e prognósticos.
Os homens devem manter a vigilância sobre a próstata ao longo dos anos, considerando também a sua expectativa de vida, que pode ser calculada por meio de um referencial que os médicos chamam de idade biológica. Para homens com expectativa de vida menor que 10 anos de vida, recomenda-se parar de fazer os exames de detecção desse tipo de câncer, uma vez que a medida pouco agrega, além de se tornar uma fonte de preocupação desnecessária. Contudo, eles não devem deixar de fazer o acompanhamento urológico, inclusive para tratar outros dois problemas que afetam a próstata: a prostatite (inflamação da próstata) e a hiperplasia prostática benigna (crescimento exagerado da glândula). Mais comuns e preocupantes que os tumores nessa fase da vida, essas doenças, se não forem tratadas, minam a qualidade de vida, provocando problemas de rim e no controle da urina.
Cuidar da saúde urológica é fundamental em todas as fases da vida do homem, mas começar cedo pode fazer toda a diferença na prevenção do câncer de próstata (e outros problemas). Essa é uma necessária e saudável mudança cultural.
Fonte: Daher Cezar Chade - CRM/SP 105.209
Data de produção: 10/10/2022
Data da última atualização: 21/10/2022