A esclerose múltipla é uma doença neurológica autoimune que afeta o sistema nervoso central. Devido a uma disfunção imunológica de causas ainda não totalmente esclarecidas, as células de defesa do organismo passam a atacar a bainha de mielina, uma delicada camada de gordura e proteína que protege, sustenta e nutre os neurônios. Esse processo resulta em surtos inflamatórios e danos no cérebro e na medula espinhal, provocando uma ampla gama de sintomas neurológicos.
Contrariando o senso comum, que a associa equivocadamente à velhice, a doença acomete principalmente jovens adultos, com idade média de 34 anos no Brasil, sendo três vezes mais comum em mulheres do que em homens. Embora possa ser considerada rara no país – com uma incidência de 15 casos para cada 100 mil habitantes –, é a segunda principal causa de incapacidade neurológica em jovens, perdendo apenas para acidentes de trânsito. A esclerose múltipla é mais frequente nos países do Hemisfério Norte.
Trata-se de um mal crônico e ainda sem cura, que, sem cuidados adequados, pode trazer grande impacto na qualidade de vida do paciente. Todavia, a descoberta de novos medicamentos na última década e meia tem mudado a história clínica dessa enfermidade. É muito importante que seja diagnosticada e tratada precocemente. Com o tratamento contínuo e adequado, um número cada vez maior de pacientes está vivendo plenamente, deixando no passado os estigmas associados a essa doença.
Por afetar o sistema nervoso central, a esclerose múltipla provoca vários tipos de sintomas. Os mais comuns são:
Após avaliação inicial baseada nos sintomas clínicos, o diagnóstico da esclerose múltipla é confirmado por meio de imagens de ressonância magnética que permitem identificar a ocorrência de inflamações no sistema nervoso e áreas que foram permanentemente danificadas em surtos anteriores. Além disso, pode ser solicitado o exame de liquor (líquido cefalorraquidiano), que também localiza inflamações e ajuda a confirmar o diagnóstico, particularmente em casos de exames de imagem inconclusivos.
O diagnóstico precoce, seguido de tratamento, é crucial para impedir a progressão da doença e reduzir seu impacto. Contudo, no Brasil, registra-se em média um atraso de dois a cinco anos no diagnóstico pelo fato de, muitas vezes, a doença ser confundida com outras condições e pelo acesso limitado a neurologistas especializados e a exames diagnósticos.
Apesar de não haver cura, existem vários medicamentos de alta eficácia que atuam na diminuição dos níveis inflamatórios do sistema nervoso central e no controle dos surtos, visando aumentar o intervalo entre eles. A prescrição é sempre individualizada, considerando as condições clínicas de cada paciente, o estágio em que a doença se encontra (precoce ou avançada, com muitas lesões) e os tipos de sintomas que provoca.
Avanços importantes ocorreram nos últimos 15 anos com o desenvolvimento de novos medicamentos imunomoduladores orais e imunossupressores injetáveis, incluindo os anticorpos monoclonais. De modo geral, eles agem bloqueando a entrada de anticorpos no sistema nervoso central ou diminuindo a atividade do sistema autoimune, a fim de evitar inflamações locais. São novidades que estão transformando a história natural da esclerose múltipla, permitindo que pacientes diagnosticados precocemente levem uma vida praticamente assintomática.
Além disso, atividade física regular, alimentação saudável, suplementação vitamínica e práticas integrativas, como meditação e yoga, têm comprovada ação benéfica para a saúde e o bem-estar dos pacientes.
Nos casos mais graves, ou seja, pacientes que sofrem com sequelas neurológicas, também é indicada a reabilitação física, incluindo fisioterapia.
Atenção: em relação ao tratamento, é importante rejeitar práticas e discursos sem sustentação científica, como aqueles que apregoam que a doença pode ser curada e/ou controlada apenas por meio da suplementação de vitamina D. Afirmações desse tipo expõem o paciente a riscos.
Entre os novos medicamentos disponíveis no Brasil estão o ofatumumabe e a cladribina.
O ofatumumabe é um anticorpo monoclonal anti-CD20, que reduz o poder de ação de um grupo específico de células imunológicas (as CD20). Ao restringir sua ação imunossupressora apenas sobre essas células, o medicamento diminui os efeitos colaterais comuns de outros imunossupressores, como o aumento do risco de infecções.
Já a cladribina é um quimioterápico de uso oral com efeito imunossupressor de alta performance, que atua nos linfócitos B e T. Seu grande diferencial é o uso intermitente, com eficácia prolongada. O paciente precisa tomar o remédio apenas em determinados períodos e seu efeito se estende por vários anos. Como pode causar imunossupressão excessiva, em alguns casos a cladribina precisa ser administrada junto com antibióticos para evitar infecções.
Mais novidades estão por vir. Na BP, por exemplo, estão em andamento estudos clínicos de medicamentos desenvolvidos a partir de novas moléculas, o que permite proporcionar aos pacientes acesso a tratamentos experimentais de ponta.
Nosso Centro de Doenças Autoimunes desponta como uma referência nacional no diagnóstico e tratamento da esclerose múltipla, atendendo pacientes de diversas regiões do país. Com abordagem integrada, personalizada e humanizada, o centro está estruturado para um atendimento ágil aos pacientes, aspecto importante devido à urgência característica da doença, e também para oferecer segunda opinião a portadores de esclerose atendidos por outras instituições.
Na fase diagnóstica, destaca-se o nosso parque de exames de imagem, com modernos aparelhos de ressonância magnética, fundamentais para a identificação da doença ou para avaliação de sua progressão.
Pacientes que necessitam de medicamentos administrados por via endovenosa contam com um moderno centro de infusão. Trata-se de um espaço que combina ambiente acolhedor com elevados padrões de qualidade e segurança nos procedimentos. Nele, atuam profissionais preparados para a manipulação correta dos medicamentos e equipe de enfermagem experiente nos processos de infusão e em lidar com eventuais reações adversas.
Além do acompanhamento contínuo pelo neurologista, o paciente, dependendo de suas necessidades, pode contar com o suporte de profissionais da equipe multi, incluindo fisioterapeutas, psicólogos e terapeutas ocupacionais.
Fonte: Dr. Guilherme Olival – CRM/SP 135.992