Lúpus

Entendendo a doença
Lúpus é uma doença autoimune que ocorre quando o sistema imunológico passa a produzir anticorpos contra vários tecidos e órgãos do nosso organismo e os interpreta como elementos estranhos a serem eliminados. Em consequência, há inflamação e danos aos órgãos, provocando sintomas diversos, em níveis de gravidade que podem variar caso a caso. A doença é mais frequente nas mulheres, surgindo entre os 20 e 30 anos.
Um dos traços característicos do lúpus é a sua variação entre períodos de remissão, quando a enfermidade permanece silenciosa, e de atividade, quando a inflamação está presente, com manifestações clínicas visíveis e alterações que podem ser registradas em exames laboratoriais.
Apesar de não haver cura, o lúpus pode ser bem controlado com o advento de novos medicamentos, como as drogas modificadoras de doença. Com tratamento adequado, muitos pacientes podem permanecer em remissão e ter uma boa qualidade de vida.
Tipos de lúpus
- Lúpus cutâneo – lúpus que provoca lesões de pele. Pode acontecer como doença isolada, afetando somente a pele, ou associada ao lúpus sistêmico, quando afeta vários órgãos do corpo. Pode causar várias lesões de pele diferentes, que são divididas em subtipos: lúpus agudo, subagudo e crônico. As lesões costumam afetar com maior frequência rosto, pescoço, membros superiores e tórax.
- Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES) – ocorre quando a doença afeta vários órgãos do corpo, como pele, rins, pulmões e coração, e articulações.
- Lúpus Induzido por Drogas – Apesar de ser raro, o uso de determinadas medicações, como a hidralazina, por exemplo, pode levar à produção de autoanticorpos e causar sintomas semelhantes ao lúpus eritematoso sistêmico, porém com diferenças imunológicas importantes. Na maior parte dos casos, os sintomas costumam melhorar após a interrupção do uso da medicação.
- Lúpus Neonatal – é uma doença autoimune que afeta bebês no período fetal ou enquanto ainda recém-nascidos. É causada quando anticorpos, como o anti-Ro, são passados da mãe para o bebê através da placenta. Pode causar alterações da pele, do coração e das células do sangue.
Fatores de risco
A causa do lúpus ainda não é completamente conhecida e o seu desenvolvimento envolve, em geral, um conjunto de fatores. Alguns dos principais fatores de risco incluem:
- Fatores genéticos – Pessoas que possuem um parente de primeiro grau com lúpus têm risco 17 vezes maior de desenvolver a doença.
- Infecções virais – Como a causada pelo vírus Epstein-Barr, podem servir como estímulos para a ativação da resposta imune.
- Fatores ambientais – Como a exposição aos raios UV.
- Uso de determinadas medicações – Pode atuar como gatilho para as manifestações da doença.
- Alterações hormonais – Justificam a maior predisposição feminina ao desenvolvimento da doença.
- Alterações no sistema imunológico.
- Ocorrência de outras doenças do sistema imune – Como algumas deficiências de complemento, podem aumentar o risco de desenvolver LES.
Sintomas
Os sintomas do lúpus estão associados a diferentes órgãos e sistemas do corpo, fazendo dela uma doença com múltiplas formas de manifestação clínica. Alguns dos sintomas mais comuns são:
- Alterações cutâneas – As manifestações do lúpus na pele afetam até 80% a 90% dos pacientes durante a evolução da doença. Manchas e lesões cutâneas podem acontecer, sendo o rash malar (ou eritema em asa de borboleta, que deixa as bochechas avermelhadas) um dos sinais mais característicos do lúpus.
- Dores articulares – Os pacientes podem apresentar artralgia (dor nas articulações) ou artrite (quando há inflamação articular).
- Danos renais – O lúpus pode causar nefrite lúpica, uma inflamação grave nos rins que, em casos mais sérios, pode levar à insuficiência renal e à necessidade de hemodiálise.
- Danos nos órgãos internos – A doença pode inflamar as membranas que envolvem o coração (causando pericardite e derrame pericárdico) e os pulmões (causando pleurite e derrame pleural). Essas alterações podem provocar sintomas como dificuldade para respirar e desconforto no tórax.
- Sintomas gerais – Febre prolongada e recorrente, fadiga intensa, perda de peso, queda acentuada de cabelo e aftas orais frequentes.
- Outros sintomas – Podem ocorrer nos casos em que o lúpus afeta o sistema nervoso central e os componentes do sangue (plaquetas e células de defesa, como os leucócitos e linfócitos).
Diagnóstico
Conduzido por um reumatologista, o diagnóstico do lúpus é criterioso, uma vez que os sintomas podem ser semelhantes aos de outras doenças. Como cada paciente pode apresentar manifestações diferentes da enfermidade, o diagnóstico é individualizado, levando em conta o histórico clínico e os achados dos vários tipos de exames que podem ser solicitados, de acordo com a indicação do médico.
- Exame físico: Durante a consulta, o especialista observa alterações visíveis no paciente, como o eritema em asa de borboleta (manchas vermelhas no rosto) ou inflamações articulares.
- Exames laboratoriais (exame de sangue): São fundamentais para confirmar a suspeita da doença. Os principais incluem:
- FAN (Fator Antinuclear) – Pode indicar a presença de anticorpos que atacam o próprio organismo, chamados de autoanticorpos. É importante ressaltar que esse exame sozinho não confirma o diagnóstico, sendo necessário analisá-lo no contexto clínico do paciente.
- Anti-DNAds e Anti-SM – Contribuem para o diagnóstico de lúpus, pois são anticorpos mais específicos da doença.
- Exame de urina e outros exames de sangue: Avaliam sinais de inflamação, anemia e possível comprometimento renal.
- Exames de imagem e biópsias: São solicitados para avaliação de órgãos específicos e indicados conforme os sintomas. Por exemplo:
- Biópsia renal: Essa avaliação mais detalhada dos rins pode ser necessária caso haja suspeita de nefrite.
- Tomografia do pulmão: Se houver suspeita de inflamação e outros acometimentos do pulmão.
Tratamento
A estratégia terapêutica para controlar o lúpus está baseada na combinação de medidas focadas em um estilo de vida mais saudável e no uso de drogas modificadoras de doença, prescritas pelo médico de forma individualizada em função da gravidade e extensão da enfermidade. Com o surgimento de novos remédios, cada vez mais pacientes têm conseguido melhor controle da doença e boa qualidade de vida.
Tratamento não medicamentoso
- Alimentação equilibrada – Uma dieta saudável, rica em frutas, legumes e livre de alimentos processados e ultraprocessados, é ponto importante para a manutenção da saúde geral.
- Atividade física regular – Ajuda a manter as articulações saudáveis e a reduzir o risco de complicações como doenças cardiovasculares.
- Evitar o tabagismo – Não fumar soma pontos positivos à saúde do paciente com lúpus.
- Manter a vacinação em dia – Pacientes com lúpus e em uso de imunossupressores podem ter as defesas imunológicas reduzidas, sendo fundamental que estejam protegidos contra infecções.
- Controle da pressão arterial e glicemia – É indispensável manter sob controle as comorbidades, como hipertensão e diabetes, que podem agravar o estado de saúde da pessoa com lúpus.
- Proteção solar rigorosa – A exposição ao sol pode agravar a doença, desencadeando crises. Por isso, recomenda-se o uso diário de protetor solar, com duas a três reaplicações por dia, e o uso de roupas e acessórios protetores, como chapéu.
Tratamento medicamentoso
O uso de remédios no tratamento do lúpus visa controlar a resposta imunológica exagerada do organismo, reduzir a inflamação e prevenir danos aos órgãos. A prescrição de medicações conhecidas como drogas modificadoras de doença é ajustada gradualmente, de acordo com a gravidade do caso e dos órgãos afetados. Algumas das principais medicações utilizadas são:
- Hidroxicloroquina: É a base do tratamento, indicada para todos os pacientes, exceto em casos de contraindicação. Essa medicação atua na modulação da resposta imunológica do organismo, reduzindo a atividade e a frequência das reativações da doença, além de proporcionar diversos outros benefícios para o paciente com lúpus.
- Corticoides: São empregados para controle da inflamação, principalmente nas fases de maior atividade da doença.
- Imunossupressores: São indicados para melhor controle das manifestações do lúpus. Entre eles estão metotrexato, azatioprina e micofenolato de mofetila.
- Pulsoterapia: É um tratamento intensivo que pode ser indicado para casos graves. Baseia-se na aplicação de medicações intravenosas em doses maiores e com efeito mais rápido. Essa terapia pode ser feita com corticoide ou com ciclofosfamida (um tipo de imunossupressor potente).
- Imunobiológicos: Essa classe de medicamentos ampliou sobremaneira o arsenal terapêutico para o tratamento do lúpus. Eles são indicados quando as terapias convencionais se mostraram insuficientes. São algumas dessas medicações: belimumabe, anifrolumabe e rituximabe.
Prevenção
Até o momento, não há evidências sólidas de práticas que possam prevenir o lúpus. No entanto, é sempre recomendável adotar um estilo de vida saudável, com dieta equilibrada, prática regular de atividades físicas, além de usar rotineiramente protetor solar e expor-se ao sol nos horários de menor incidência dos raios UV (antes das 10h ou depois das 16h) para manutenção de uma boa saúde de forma geral.
Novidades
O uso dos imunobiológicos é a principal novidade no tratamento do lúpus. Devido à eficácia dessas medicações no controle da doença, especialmente em casos graves ou refratários, as pesquisas recentes dão foco às novas opções de tratamento que atuam em vias específicas da imunidade, ajudando a reduzir a inflamação e os danos causados pela enfermidade.
Nossos diferenciais
Na BP, os pacientes encontram um polo de referência para o diagnóstico e tratamento do lúpus, uma doença que exige profissionais especializados para identificá-la e habilitados para definir estratégias terapêuticas eficazes.
Além de reumatologistas, contamos com médicos de diversas outras especialidades médicas, algo essencial no tratamento do lúpus, já que a doença pode afetar múltiplos órgãos, como o coração, os rins e o sistema nervoso. Assim, paralelamente ao acompanhamento contínuo com o reumatologista, o paciente pode precisar de atendimento com cardiologista, nefrologista, neurologista, psicólogo, fisioterapeuta e outros especialistas, garantindo um cuidado integral.
Também contamos com uma sólida estrutura de medicina diagnóstica, com um completo portfólio de exames laboratoriais e exames de imagem.
Outro ponto forte é o nosso Centro de Infusão, um ambiente tranquilo e acolhedor, com boxes individuais, que asseguram conforto e privacidade, onde os pacientes podem realizar pulsoterapia e outros tratamentos com imunobiológicos, quando necessário, sem a necessidade de internação.
No Centro de Infusão, antes de cada aplicação do medicamento, o paciente passa por uma avaliação criteriosa, que inclui:
- Triagem pela enfermagem: verificação de sinais vitais, como pressão arterial, frequência cardíaca e temperatura, além da identificação de eventuais riscos.
- Avaliação médica: o médico verifica se há contraindicações antes da administração da medicação, aumentando a segurança do tratamento.
Esse cuidado assegura que o paciente esteja apto a receber a medicação e minimiza os riscos de complicações. Além disso, a segurança do tratamento é reforçada por medidas que, embora essenciais, muitas vezes passam despercebidas pelos pacientes, como os rigorosos padrões de armazenamento e administração dos medicamentos, garantindo sua eficácia.
Para os casos mais graves, contamos com uma moderna e eficiente estrutura de internação, capaz de atender pacientes com complicações severas do lúpus.
A esse conjunto de recursos, soma-se a humanização característica da BP e uma abordagem de cuidados integrados que, verdadeiramente, colocam o paciente no centro de tudo o que fazemos.
Fonte: Dra. Jeane Barco dos Santos – CRM/SP 211.053