Doença

Retocolite Ulcerativa

Entendendo a Doença

A retocolite ulcerativa ou colite ulcerativa é uma doença inflamatória crônica que pode acometer todo o cólon (área central do intestino grosso), o sigmoide (porção transversal que liga o intestino grosso ao reto) e o reto, causando lesões e úlceras. Embora possa ocorrer em qualquer idade, a maior incidência é entre os 20 e 30 anos e após os 50.

Trata-se de uma doença autoimune, o que significa que o próprio sistema imunológico passa a atacar células e tecidos saudáveis. Embora a ciência ainda não tenha desvendado completamente as razões que levam a essa disfunção, sabe-se que ela está relacionada a herança genética e outros fatores de risco.

O estilo de vida moderno, com alto consumo de alimentos industrializados e ultraprocessados, sedentarismo e estresse, tem contribuído para aumentar o número de casos da doença. Mas o volume de diagnósticos também cresceu porque mais pessoas com sintomas gastrointestinais estão buscando ajuda médica.

A retocolite ulcerativa não tem cura, mas pode ser controlada, com remissão dos sintomas e boa qualidade de vida. Sem tratamento adequado, pode causar anemia e desnutrição e, nos casos mais avançados, evoluir para uma condição extremamente grave e potencialmente fatal: a colite tóxica ou fulminante, que provoca inflamação generalizada. É um quadro de emergência médica, que pode exigir cirurgia para a retirada das partes do intestino afetadas.

A retocolite ulcerativa também pode contribuir para o desenvolvimento de inflamações em outras partes do organismo, como artrite (inflamação das articulações), uveíte (inflamação do revestimento interno do olho) e colangite esclerosante primária (CEP), enfermidade que acomete o fígado e as vias biliares, podendo evoluir para cirrose e até exigir transplante hepático. Além disso, a retocolite ulcerativa, se não controlada, é fator de risco para câncer de cólon.

Tipos

A retocolite ulcerativa é classificada em leve, moderado ou grave de acordo com a intensidade das inflamações e sua localização:

  • Proctite ulcerativa: atinge a parte inferior do cólon e o reto
  • Colite distal: afeta apenas o lado esquerdo do cólon
  • Pancolite: acomete todo o cólon

Sintomas

Os principais sintomas são:

  • Diarreia frequente e com sangue
  • Dor abdominal de forte intensidade
  • Perda de peso
  • Anemia

Diagnóstico

Ao identificar os sintomas, é importante procurar direto um gastroenterologista. Muitas vezes, a demora ou dificuldade em acessar um médico especialista acaba atrasando o diagnóstico e, portanto, o início do tratamento.

Além do exame clínico e avaliação dos sintomas, o diagnóstico é obtido a partir da realização de colonoscopia com biópsia. O exame permite observar alterações na mucosa do intestino, como vermelhidão, inflamações e úlceras. A biópsia vai apontar o tipo da inflamação, que na retocolite ulcerativa tem características específicas.

Também é realizado exame de sangue para marcadores inflamatórios e para detectar anemia, nível de ferro e de albumina (tipo de proteína).

Tratamento

O tratamento é definido de acordo com o perfil e condição clínica do paciente e a gravidade dos sintomas e inflamações.

Em situações de crise, opta-se pelo uso temporário de corticoides para cortar a inflamação rapidamente.

Nos casos classificados como leves, quando são poucos episódios diários de diarreia, são prescritos aminossalicilatos, medicamentos administrados via oral que reduzem a inflamação do trato gastrointestinal.

Para quadros moderados e graves são indicados imunobiológicos, medicamentos que atuam diretamente no sistema imunológico com o objetivo de impedir o processo causador da inflamação. Eles podem ser ministrados via endovenosa ou subcutânea, dependendo da medicação. A escolha é feita com base na gravidade da doença, considerando também a opção que facilitará a adesão ao tratamento.

Os atuais imunobiológicos têm uma ação mais específica no trato gastrointestinal do que as gerações anteriores. Ainda assim, afetam aspectos do sistema imunológico, baixando a imunidade, o que exige alguns cuidados especiais. Antes do início do tratamento, são feitos testes para doenças como hepatite, HIV, sífilis e tuberculose. A tuberculose, por exemplo, pode estar latente, sem se manifestar. Se detectada, precisa ser tratada antes de iniciar o protocolo para retocolite ulcerativa. Também é realizada a vacinação prévia com imunizantes que não podem ser aplicados durante o uso dos imunobiológicos.

Procedimentos cirúrgicos para a retirada da parte afetada do cólon podem ser necessários nos casos de colite tóxica ou quando o paciente não responde ao tratamento medicamentoso. Dependendo da extensão da área, é colocada uma bolsa de ostomia para coleta das fezes.

O objetivo terapêutico é a remissão da doença, com desaparecimento dos sintomas clínicos, de preferência acompanhado de normalização da colonoscopia, com o fim das úlceras e cicatrização das mucosas. Melhor ainda se a biópsia comprovar a inexistência de inflamação nos tecidos.

Uma vez controlada a doença, é importante seguir com o tratamento de manutenção, com acompanhamento médico regular, pois sem medicação a inflamação pode retornar.

Fatores de Risco

  • Herança genética
  • Alimentação baseada em produtos industrializados, ultraprocessados e gorduras
  • Desequilíbrio na microbiota intestinal (microorganismos que vivem no trato gastrointestinal)
  • Sedentarismo
  • Estresse
  • Consumo frequente de álcool

Prevenção

  • Alimentação saudável, incluindo fibras, frutas, verduras e legumes
  • Prática regular de atividade física
  • Cuidado da saúde emocional, evitando estresse e ansiedade
  • Manutenção do equilíbrio da flora intestinal. Além da alimentação saudável, contribui para isso o consumo de produtos fermentados, como iogurte. Também é importante evitar antibióticos em excesso.
  • Evitar bebidas alcoólicas

Novidades

Estudos em andamento devem resultar em novos imunobiológicos, ampliando a gama de possibilidades de tratamento. A expectativa é criar medicamentos com menos efeitos colaterais e que funcionem para casos sem resposta às atuais opções disponíveis. Também se busca restringir cada vez mais a ação ao trato intestinal, causando menos impactos na imunidade de forma geral.

Em 2024, a Anvisa liberou para tratamento da retocolite ulcerativa, o upadacitinibe, um imunobiológico de nova geração que atua como inibidor de JAK (Janus quinase, enzimas ligadas ao processo inflamatório). Administrado via oral, o medicamento também é utilizado no cuidado de doenças autoimunes reumatológicas, como a artrite reumatoide.

Diferenciais da BP

Pacientes com retocolite ulcerativa encontram no Centro de Doenças Autoimunes da BP um espaço especialmente criado para o cuidado dessas enfermidades, com farmacêuticos e equipe de enfermagem especializados nos processos de infusão de medicamentos, além de um médico de plantão para atendimento de eventuais reações adversas. Com um ambiente tranquilo e acolhedor, a área conta com boxes individuais, garantindo ao paciente privacidade e conforto.

Os procedimentos adotam as melhores práticas de qualidade e segurança, sem esquecer algo que consideramos tão importante quanto os requisitos técnicos: a humanização do atendimento.

O empenho para proporcionar ao paciente uma boa experiência faz com que a atividade dos profissionais da área vá além da administração das infusões. Eles também dão suporte aos pacientes nos processos burocráticos, auxiliando nos agendamentos e na requisição de aprovações do plano de saúde.

Os médicos gastroenterologistas do Centro, Dra. Júlia Vieira Kruster e Dr. Davi Viana Ramos, participam do Grupo de Estudos da Doença Inflamatória Intestinal do Brasil/Organização Brasileira de Doença de Crohn e Colite e seguem as diretrizes da entidade, mantendo-se sempre atualizados com os avanços da área.

Além do Centro de Doenças Autoimunes, os pacientes com retocolite ulcerativa encontram na BP todos os demais serviços necessários nas diferentes etapas de cuidado, incluindo exames laboratoriais e colonoscopia com biópsia, consultas de acompanhamento e cirurgia para os casos em que o procedimento é indicado.

Fonte: Júlia Vieira Kruster – CRM/SP 180.290