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Praticamente ninguém passará a vida sem ter tido algum episódio de dor de cabeça (cefaleia). Mas há gente que sofre com o problema constantemente. Descobrir o tipo de dor de cabeça é importante para receber o tratamento mais adequado
Cefaleia, a conhecida dor de cabeça, quase todo mundo terá. Às vezes é uma ocorrência passageira, rapidamente superada. Mas alguns tipos de cefaleia podem impactar fortemente a vida das pessoas e exigem cuidados médicos para garantir o tratamento adequado. Há ainda dores de cabeça decorrentes de eventos mais graves, como um problema vascular ou um AVC.
As dores de cabeça podem ser crônicas (as de maior incidência) ou agudas. Dentre as crônicas, a mais comum é a enxaqueca que, segundo a Sociedade Brasileira de Cefaleia, afeta cerca de 15% da nossa população. É caracterizada por uma dor pulsátil e crescente em um ou ambos os lados da cabeça. Causa sensibilidade à luz, a odores ou sons e, muitas vezes, vem acompanhada de náuseas e vômitos. Alguns pacientes têm sintomas neurológicos pouco antes de uma crise, enxergando pontos brilhantes ou outras alterações visuais.
As crises geralmente surgem no final da infância e perduram a vida toda, alternando períodos de maior e menor frequência e intensidade da dor. É causada por uma combinação de fatores, e os desencadeadores mais comuns são alimentação (tempero, queijo, vinho, chocolate, ingestão ou abandono de cafeína, etc.), falta de sono, uso de determinados medicamentos, fome e estresse, entre outros.
Outro tipo de dor de cabeça crônica é a cervicogênica, associada a problemas ortopédicos na parte superior da coluna cervical (pescoço/nuca), músculos ou nervos. A dor é recorrente. Geralmente acomete um dos lados da cabeça, às vezes afetando a também a face.
Já a cefaleia tensional é considerada crônica se houver repetição frequente das crises. Caso contrário, é um problema ocasional. Trata-se de um tipo de dor de cabeça muito comum, relacionado com a tensão ou o enrijecimento da musculatura da região do pescoço que irradia a dor para a cabeça e os olhos. Ao contrário da enxaqueca, que é uma dor pulsátil, esta é marcada por uma sensação de peso ou pressão. O problema é causado por má postura, ansiedade e estresse.
Esses e outros tipos de cefaleias crônicas contam com diversos medicamentos comprovadamente eficazes, além de cuidados multiprofissionais, como acupuntura, fisioterapia analgésica e até psicólogo ou psiquiatra, já que muitas vezes há questões emocionais envolvidas.
O tipo de medicação e demais tratamentos variam caso a caso, dependendo das causas e do perfil do paciente, visando sempre reduzir a frequência e intensidade das crises. Uma premissa básica é agir na prevenção, combatendo as causas ou cortando a crise nos primeiros quinze minutos.
Costumam ser administrados analgésicos, anti-inflamatórios ou vasoconstritores. Entre as abordagens mais recentes está o uso de anticonvulsivos, antidepressivos hipotensores e antivertiginosos, medicamentos utilizados no tratamento de outras doenças, mas que agem com sucesso na redução da dor de cabeça. Também podem ser indicadas infiltrações com analgésicos, corticoides ou toxina botulínica (botox), que ajuda no relaxamento dos músculos da cabeça.
O mais recente avanço é um medicamento injetável preventivo, o erenumabe, já aprovado pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). Esta opção, porém, tem um custo bastante alto, sendo reservada apenas para pacientes que não conseguiram o controle da dor com as demais alternativas de tratamento.
Com este amplo espectro de possibilidades, a enxaqueca atualmente pode ser controlada com eficiência para impactar menos na vida do paciente. Mas é importante consultar um neurologista para indicação do melhor tratamento para cada quadro e evitar a automedicação. O uso indiscriminado de analgésicos como dipirona ou paracetamol pode piorar a frequência das crises, além de mascarar a doença que está causando a dor, impedindo um tratamento adequado. Uma dor cervicogênica, por exemplo, tem como gatilho o envelhecimento da coluna cervical, que precisa ser investigado por neurologista, neurocirurgião ou ortopedista.
Todos os tipos de cefaleias crônicas têm uma relação com fatores ambientais, como estresse, hábitos alimentares e postura, entre outros. Por isso, é importante adotar um estilo de vida mais saudável, com alimentação balanceada, evitando álcool, excesso de chocolate e café; prática de atividade física aeróbica e controle do estresse.
Diferentemente das cefaleias crônicas, que atrapalham a vida dos pacientes, mas não são graves, as dores de cabeça agudas e subagudas podem ser desencadeadas por um problema de maior gravidade, que precisa de investigação imediata.
De forma geral, a dor aguda inicia subitamente e com forte intensidade. Mas pode ser também um sintoma recente que vem durando alguns dias em quem não tem histórico de cefaleia ou uma mudança do padrão de uma dor crônica.
Quando acompanhada de febre, costuma indicar um quadro inflamatório infeccioso, como meningite viral ou bacteriana, dengue ou Covid, entre outras doenças.
Também pode estar associada a um evento vascular, AVC (acidente vascular cerebral), aneurisma ou malformação arteriovenosa. Nesses casos, tem como principal sinal de alerta a perda do nível de consciência, embora alguns pacientes se mantenham conscientes.
As cefaleias classificadas como subagudas são aquelas que não existiam até então e perduram dias ou semanas. Precisam ser investigadas para descartar a possibilidade de um tumor benigno ou maligno no cérebro ou metástase de um câncer originado em outro órgão.
Cada quadro de dor aguda tem um tratamento específico. Se decorrente de infecções, é necessária a administração de antibiótico ou antiviral, além de medicamento para controle da dor. Problemas vasculares, neurológicos e tumores exigem o cuidado de especialistas nessas áreas.
É fundamental estar atento a alguns sinais de cefaleia aguda que precisam de avaliação urgente, já que o tempo de início do tratamento faz toda a diferença para o desfecho. Dores de extrema intensidade, muitas vezes descritas como “a pior que já tive na vida”, e aquelas acompanhadas de sintomas neurológicos (perda ou alteração de consciência e de comportamento, déficit de força e/ou sensibilidade, perda de visão ou crise convulsiva) exigem a ida imediata ao pronto-socorro.
Crônicas ou agudas, existem vários tipos de dor de cabeça. Em vez de tomar remédios por conta própria, o melhor caminho é procurar um neurologista para descobrir qual é o seu tipo de cefaleia, como tratá-la e como evitar os “gatilhos” relacionados com alimentação, estresse e outros fatores ambientais. Cuidar adequadamente da dor de cabeça é ganhar qualidade de vida.