O que é?
O câncer de bexiga é um dos tumores mais comuns do sistema urinário. Ele afeta três vezes mais homens que mulheres e, embora possa ocorrer em qualquer idade, é mais frequente entre pessoas com mais de 55 anos. Segundo estimativa do Instituto Nacional de Câncer (Inca), no Brasil são diagnosticados 9.480 novos casos por ano, sendo 6.690 em homens e 2.790 em mulheres.
Na maioria das vezes, a doença se origina nas células uroteliais que compõem a mucosa que reveste a parte interna da bexiga. Começa geralmente sob a forma de um ou mais tumores pequenos e superficiais, confinados à mucosa do órgão. São os carcinomas in situ (quando as células tumorais ainda não têm capacidade de invadir os tecidos) e os tumores superficialmente invasivos. Sem um diagnóstico precoce e tratamento efetivo, essas lesões podem atingir as camadas musculares mais profundas da bexiga, a gordura que a reveste externamente e os órgãos vizinhos, como reto, próstata ou útero. Também podem se disseminar para os linfonodos (gânglios linfáticos), através da circulação linfática, e para órgãos distantes, como fígado, pulmões e ossos, através da circulação sanguínea.
Tipos de Câncer de Bexiga
O tipo de câncer de bexiga mais comum, responsável por 90% dos casos, é o carcinoma urotelial. Também chamado carcinoma de células transicionais (CCT), ele pode ser dividido em tumores de baixo grau (cujas células são semelhantes às da mucosa normal da bexiga) e de alto grau (com células muito diferentes das normais e de crescimento mais rápido).
Outros tipos menos frequentes (10%), mas mais agressivos, incluem os carcinomas epidermóides, os adenocarcinomas e os carcinomas de pequenas células.
Sintomas e Diagnóstico
Os principais sintomas que podem estar associados ao câncer de bexiga são:
- Sangue na urina (hematúria)
- Sensação de ardor
- Urgência para urinar
É importante ressaltar que essas queixas também podem estar relacionadas com outros problemas de saúde, como cálculos renais, infecções urinárias e prostatite (inflamação da próstata) benigna.
Quando o câncer se encontra em estágio mais avançado, pode provocar dores pélvicas, sangramento retal e inchaço das pernas associado ao comprometimento dos linfonodos pélvicos.
Se você observar algum ou alguns dos sintomas que podem sugerir câncer de bexiga (veja em Sintomas), principalmente se tiver mais de 40 anos, é recomendável procurar o seu médico para fazer uma avaliação completa do trato urinário. Entre os exames que ele pode solicitar para fazer o diagnóstico estão:
- Cistoscopia: esse procedimento é realizado por meio da introdução de um aparelho ótico (cistoscópio) na bexiga através da uretra para visualização do interior do órgão. Quando uma lesão suspeita é detectada, é extraída uma amostra do tecido (ressecção transuretral) para ser analisada em laboratório (análise anatomopatológica).
- Citologia urinária: é uma análise microscópica da urina para investigar a presença de células tumorais. Contudo, esse exame detecta apenas de 20% a 30% dos tumores da bexiga. Ou seja, citologia negativa não afasta a possibilidade de câncer de bexiga.
- Exames de imagem: tomografia, ultrassonografia e ressonância magnética são úteis para a detecção de massas tumorais ou outras anormalidades no sistema urinário.
Uma vez confirmado o diagnóstico, seu médico buscará definir o estágio (estádio, na linguagem técnica) da doença, considerando o tamanho do tumor, se ele está restrito à bexiga ou já atingiu outras partes do corpo. Para isso, utilizará exames de imagem, como tomografia ou ressonância de abdome e pelve, além de tomografia ou raio X do tórax.
Fatores de Risco
O principal fator de risco para o câncer de bexiga é o tabagismo. Fumantes têm risco de 2 a 4 vezes maior que os não fumantes de desenvolver a doença.
Outros fatores de risco são o tabagismo passivo, baixa ingestão de líquidos e exposição à anilina* e seus derivados.
*Derivada do benzeno, a anilina é uma substância química usada em indústrias como as de borracha, couro, tintas e têxtil.
Estadiamento
O estadiamento tem o objetivo de classificar em que fase a doença se encontra, visando a definir a estratégia de tratamento mais apropriada. Para tal, exames de imagem são utilizados (Tomografias ou Ressonâncias de abdome e pelve, além de Tomografias ou Raio-X do tórax para avaliar os pulmões).
Tratamento
O tratamento do câncer de bexiga varia de acordo com o estágio da doença, o grau de agressividade do tumor (alto e baixo) e as condições clínicas do paciente (estado geral de saúde e eventual presença de outras enfermidades, como diabetes e doenças cardíacas).
Tumores superficiais (que não invadiram a camada muscular da bexiga): o tratamento inicial é a ressecção transuretral endoscópica (RTU). Nesse procedimento, o médico extrai o tecido doente do interior da bexiga atingindo até a camada muscular para ter certeza de que o tumor não invadiu essa área. O material é enviado para análise em laboratório (exame anatomopatológico). Se o resultado desse exame confirmar que se trata mesmo de um tumor superficial, bem diferenciado, sem carcinoma in situ associado, a ressecção transuretral endoscópica é o tratamento definitivo. Em alguns casos – geralmente pacientes com tumores microinvasivos mais agressivos –, uma segunda RTU pode ser necessária após algumas semanas para remover eventuais lesões residuais.
Quando existem múltiplos tumores, pouco diferenciados, com presença de carcinoma in situ, é necessário tratamento complementar. A estratégia mais empregada é a terapia imunoterápica com o bacilo Calmette-Guerin (BCG), a mesma bactéria atenuada utilizada para a vacinação contra a tuberculose. Usando um cateter, a vacina é aplicada na bexiga com o objetivo de estimular o sistema imunológico a combater as células doentes que tenham sobrevivido à remoção endoscópica.
Se houver uma recidiva da doença, ou seja, uma nova ocorrência de câncer, as alternativas vão desde uma nova ressecção endoscópica até um novo tratamento com BCG ou outros agentes. Nos casos mais graves, pode ser indicada a remoção da bexiga.
Tumores que invadiram camadas mais profundas da bexiga (a partir da camada muscular) ou órgãos vizinhos (útero, próstata e reto): o procedimento padrão é a cistectomia radical, cirurgia que envolve a extração da bexiga e a reconstrução das vias urinárias para garantir o fluxo de urina. Também são retirados órgãos vizinhos: próstata e vesículas seminais, nos homens; útero, ovários e cúpula vaginal, nas mulheres.
Depois da retirada das vesículas seminais, não há mais produção de sêmen, mas o orgasmo persiste (ejaculação seca). Já a retirada da próstata pode causar graus variados de impotência sexual. Em casos muito específicos pode ser feita a cistectomia parcial, procedimento em que é removida apenas uma parte da bexiga.
Quando o risco de metástases é maior, ou seja, a doença pode atingir a gordura ao redor da bexiga, órgãos vizinhos ou linfonodos das proximidades, a quimioterapia também pode ser necessária. Ela pode ser realizada antes da cirurgia (quimioterapia neoadjuvante, com duração aproximada de três meses) ou depois (quimioterapia adjuvante, com cerca de seis meses de duração).
Embora a cirurgia seja o tratamento de escolha para o câncer de bexiga invasivo, a radioterapia é uma alternativa possível para pacientes sem condições clínicas de serem submetidos a um procedimento de grande porte ou que queiram preservar a bexiga. Trata-se de uma modalidade de tratamento com efeitos restritos ao órgão, que também pode ser combinada com a quimioterapia.
Câncer que se espalhou para órgãos como pulmões, fígado e ossos: nessa fase, a doença não pode ser curada, mas o tratamento com quimioterapia contribui para seu controle e melhoria da qualidade de vida. O objetivo é que, entrando na circulação, os medicamentos quimioterápicos sejam capazes de atingir todas as células tumorais disseminadas pelo corpo. Quanto menor o número de órgãos envolvidos, menor o tamanho das lesões metastáticas e melhores as condições clínicas do paciente, maiores são as possibilidades de regressão da doença.
Dependendo do estado geral do indivíduo e avaliação da função renal, o médico poderá indicar o uso de medicamentos quimioterápicos, como cisplatina, carboplatina, gemcitabina, paclitaxel, vinflunina e pemetrexede; ou imunoterápicos (medicamentos que estimulam o sistema de defesa a combater as células tumorais), como pembrolizumabe, atezolizumabe, durvalumabe e nivolumabe. De forma geral, a imunoterapia gera menos efeitos colaterais e é mais bem tolerada pelo paciente.
Rastreamento e Prevenção
Diferentemente do que acontece com outros tipos de câncer, como os de próstata, colo uterino e mama, não há indicação de exames de rotina para detecção precoce do câncer de bexiga. Mas há várias medidas que ajudam a prevenir a doença:
- Não fumar e evitar ambientes onde haja pessoas fumando
- Beber bastante líquido, o que ajuda a eliminar substâncias nocivas que podem agredir as paredes da bexiga
- Manter uma alimentação saudável, com uma dieta rica em frutas e vegetais
Novidades
Recentemente a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou o uso no Brasil do imunoterápico pembrolizumabe para o tratamento do carcinoma urotelial metastático. Ele já se tornou a primeira opção terapêutica para pacientes com expressão positiva do biomarcador PD-L1, uma proteína que impede que o sistema de defesa do organismo ataque as células doentes. Esse medicamento também pode ser adotado como tratamento de segunda linha (quando o primeiro tratamento falhou) tanto em pacientes com PD-L1 positivo ou negativo.
Os bons resultados obtidos com esse imunoterápico já impulsionaram o desenvolvimento de novas pesquisas que agora avaliam sua aplicação em tratamentos adjuvantes (pós-cirurgia) e neoadjuvantes (antes da cirurgia) e até mesmo para casos de tumores não invasivos.
Outra importante frente de avanços está associada ao aprimoramento das técnicas genômicas, que favorecerem a chamada medicina personalizada. Análises moleculares do tumor a partir do sequenciamento genético permitem identificar mutações que podem se tornar alvo de tratamentos específicos personalizados. Nessa linha, foi aprovado recentemente nos Estados Unidos um novo medicamento de terapia-alvo, o erdafetinib, que age contra a proteína FGFR, associada ao crescimento dos tumores. Os exames genéticos permitem identificar quais pacientes serão mais beneficiados com essa medicação.
Diferenciais BP
Além das mais modernas tecnologias para diagnóstico e assistência aos pacientes com câncer de bexiga, na BP você contará com um importante diferencial: uma equipe médica altamente qualificada e especializada. São oncologistas que se dedicam exclusivamente ao tratamento dos tumores urológicos e atuam de maneira integrada com urologistas, cirurgiões, radiologistas, radioterapeutas e patologistas. Semanalmente, esse grupo multidisciplinar se reúne para a discussão dos novos casos tratados da BP, o que garante um estudo aprofundado e a definição da estratégia de cuidado mais indicada para cada paciente.
Parte desses profissionais também está engajada em pesquisas clínicas que desenvolvemos em nossa instituição relacionadas com o câncer de bexiga. Para alguns pacientes, em casos selecionados, isso pode significar a possibilidade de contar com tratamentos ainda não disponíveis no mercado.
Vale citar ainda que contamos com os serviços de retaguarda de um laboratório especializado no sequenciamento genômico, com tecnologias que permitem estudar a genética do tumor e identificar o medicamento mais eficaz, personalizando o tratamento (leia mais em Novidades).
A melhor forma de enfrentar o câncer de bexiga varia de paciente para paciente. Com a nossa estrutura profissional e tecnológica, aliada à humanização no cuidado que cultivamos na BP, estamos preparados para estar ao seu lado e trilhar o melhor caminho para o seu caso.