Infecção do trato urinário

Entendendo a doença

A infecção do trato urinário (ITU) se caracteriza pela presença e multiplicação de micro-organismos que podem se instalar em qualquer lugar do trato urinário, desde a uretra até o rim, podendo levar a uma resposta inflamatória do organismo. A maioria dos casos é provocada por bactérias, entretanto, vírus, fungos e parasitas também podem ser causadores.

Muito comum na infância, a ITU é a segunda doença infecciosa bacteriana mais incidente em crianças de até dois anos, superada apenas pelas infecções das vias respiratórias. O diagnóstico e tratamento precoces são importantes, pois reduzem riscos de complicações, como cicatrizes renais, hipertensão arterial e até o risco de evolução para doença renal crônica (DRC).

Anomalias congênitas e estruturais dos rins e das vias urinárias (CAKUT) estão fortemente associadas às ITUs. Ao dificultarem a circulação e/ou esvaziamento da urina, elas favorecem as condições para a proliferação de infecções.

Existem duas formas mais frequentes de ITU:

  • Cistite: doença infecciosa que afeta a bexiga.
  • Pielonefrite: processo infeccioso que compromete o trato urinário alto (rins e pelve renal), incluindo o parênquima renal (estrutura onde é filtrado o sangue e formada a urina).

Sintomas

Os sintomas da ITU variam com a idade, o local da infecção e sua gravidade.

Quando a infecção é limitada à bexiga e à uretra (trato urinário baixo), os sintomas estão associados a mudanças no padrão e ritmo urinário:

  • Dor ou ardência para urinar (disúria)
  • Urinar várias vezes e em pequenas quantidades (polaciúria)
  • Incontinência ou retenção urinária, entre outros sintomas

Quando atinge o trato urinário alto e o rim (pielonefrite aguda), os sintomas mais comuns são:

  • Febre
  • Mal-estar
  • Cansaço e letargia
  • Náuseas
  • Vômitos
  • Irritabilidade
  • Dor abdominal
  • Dor nas costas

Em crianças muito pequenas, principalmente nos primeiros dois anos de vida, os sintomas da ITU não são específicos, podendo estar associados a outros problemas de saúde:

  • Redução do apetite
  • Vômitos
  • Letargia
  • Irritabilidade
  • Icterícia (pele amarelada)
  • Dificuldade de ganho de peso e/ou estatura
  • Dor abdominal
  • Cianose (arroxeamento dos lábios ou das extremidades)

Em recém-nascidos e crianças com até dois anos de vida, muitas vezes o único sinal da infecção do trato urinário é uma febre isolada.


Fatores de risco

Os principais fatores risco para as infecções do trato urinário (ITU) são:

  • Idade: estima-se que o problema afete aproximadamente 5% das crianças entre 2 e 24 meses de idade.
  • Sexo: o risco é de 3 a 5 vezes maior em meninas. No entanto, nos primeiros três meses de vida, a ITU é mais comum entre os meninos. As razões disso ainda não estão bem esclarecidas, mas entre elas pode estar a presença da fimose, principalmente nos primeiros meses de vida. Especialistas já observaram que a circuncisão reduz o risco de ITU em bebês em fase de amamentação ao longo dos primeiros 12 meses de vida.

Os outros fatores que podem representar risco para ITU são:

  • Influência genética
  • Distúrbios funcionais do trato urinário
  • Constipação intestinal (intestino preso)
  • Cálculo renal (pedra nos rins)
  • Higiene inadequada
  • Uso de sondas e cateteres urinários
  • Exposição prévia a medicamentos antimicrobianos
  • Desnutrição
  • Transplantes
  • Pacientes imunodeprimidos

Diagnóstico

Para fazer o diagnóstico, o pediatra levará em conta informações do histórico do paciente, o exame clínico e o resultado de exames laboratoriais, principalmente o de urina (urocultura), para a confirmação diagnóstica. Em pacientes pediátricos, a coleta da urina pode exigir técnicas específicas para o diagnóstico adequado.

O objetivo da investigação médica é identificar o agente infeccioso, a parte do trato urinário infectada (sítio de infecção), a ocorrência de pielonefrite (quando a infecção atinge estruturas do rim ou o trato urinário alto) e eventuais anormalidades estruturais e funcionais do trato urinário. Nesse processo, principalmente quando a criança apresenta um quadro de febre isolada, é importante afastar outros diagnósticos, como infecções respiratórias virais e
bacterianas, otite média aguda (tipo de infecção do ouvido), pneumonia, meningite, etc.

Além da urocultura, o médico poderá solicitar outros exames, como hemograma, a PCR (proteína C reativa), pró-calcitonina, eletrólitos séricos, função renal e lactato. Confirmada a infecção, ele provavelmente pedirá também uma ultrassonografia dos rins e das vias urinárias para avaliar eventual dilatação ou alteração das vias urinárias e dos rins, sinais de pielonefrite aguda e comprometimento da bexiga urinária. Se houver indícios de anomalias estruturais e funcionais do trato urinário, mais exames complementares serão necessários.

Depois do tratamento, o pediatra poderá solicitar novos exames, como os de medicina nuclear (cintilografia renal) e uretrocistografia miccional, entre outros.


Tratamento

Os principais objetivos do tratamento da ITU são eliminar a infecção, prevenir a sepse (infecção generalizada) e reduzir o risco de cicatriz renal. Se suspeitar de infecção, o médico provavelmente iniciará o tratamento com medicamentos antimicrobianos logo após a coleta da urocultura. Evidências científicas mostram uma correlação entre demora no início do tratamento e um maior risco de cicatrizes renais.

O tipo de medicação antimicrobiana será definido em função dos agentes infecciosos identificados, sensibilidade das bactérias isoladas na urocultura, idade do paciente e tolerância ao medicamento, entre outros aspectos. A administração poderá ser oral (a partir dos 3 meses de idade e em quadros não complicados) ou intravenosa.

Em alguns casos – como crianças com menos de três meses de idade, imunodeprimidas, com ITU complicada ou que não toleram medicação por via oral – pode ser necessária a internação e o tratamento inicial com antimicrobianos por via intravenosa.

Na pielonefrite aguda, os medicamentos habitualmente utilizados são as cefalosporinas de terceira geração, a ampicilina e os aminoglicosídeos. O tratamento geralmente se estende entre 10 a 14 dias, na maioria das vezes sem necessidade de internação prolongada.

Nos casos de cistite (ITU que atinge a bexiga), geralmente são ministrados antimicrobianos por via oral, como as cefalosporinas de primeira e segunda geração. Embora a amoxicilina e a sulfametoxazol-trimetropima sejam preconizados como primeira linha terapêutica, estudos recentes demonstram um índice considerável de resistência bacteriana ou risco de recorrência da infecção do trato urinário.

Em casos excepcionais, como infecções por fungos ou por bactérias incomuns ou resistentes, os medicamentos precisam ser administrados por um período prolongado e as estratégias terapêuticas, constantemente reavaliadas. Quando a evolução clínica é satisfatória (resultado negativo da urocultura após 48/72 horas do início do tratamento com antimicrobianos), a aplicação intravenosa pode ser substituída pela via oral ou ser feita no ambulatório, dependendo da avaliação médica, idade e fatores de risco associados.


Prevenção

Cuidados no pré-natal e acompanhamento pediátrico ajudam a prevenir as infecções do trato urinário:

  • Até 50% das ITUs estão associadas a anomalias estruturais e funcionais do trato urinário. A detecção e o tratamento precoces desses problemas são importantes para reduzir o risco de infeções. A ultrassonografia pré-natal pode identificar essas anomalias no feto.
  • O acompanhamento pediátrico é fundamental. Conhecendo o histórico clínico da criança, o médico pode ajudar a monitorar e controlar os fatores de risco e agir rapidamente se suspeitar da doença.
  • Embora existam controvérsias, em casos selecionados, o uso profilático (preventivo) de medicação antimicrobiana pode reduzir o risco de novas infecções e suas complicações, como o desenvolvimento de cicatrizes renais.

Novidades

Não há novidades recentes nessa área, uma vez que o diagnóstico e tratamento da ITU já estão bem-estabelecidos.


Diferenciais BP

Na BP, sua criança terá os cuidados de uma equipe especializada, preparada para tratar qualquer infecção do trato urinário – das mais simples às mais graves. Além de pediatras e nefrologistas pediátricos, contamos com profissionais de outras especialidades médicas e multidisciplinares, incluindo urologistas pediátricos e fisioterapeutas. A abordagem multidisciplinar é essencial para lidar com as complicações relacionadas à ITU.

Disponibilizamos todos os exames de investigação clínica, laboratorial e de imagem necessários para avaliar o quadro de cada paciente e definir uma melhor estratégia de cuidado individualizada. Isso inclui investigações minuciosas para a detecção de anormalidades estruturais e funcionais do trato urinário, um dos fatores decisivos para o sucesso do tratamento dos casos mais complexos.

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