Publicado em 2 de setembro de 2020
Uma aliança para condução de pesquisas formada por BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo, Brazilian Clinical Research Institute (BCRI), HCor, Hospital Alemão Oswaldo Cruz, Hospital Israelita Albert Einstein, Hospital Moinhos de Vento, Hospital Sírio-Libanês e Rede Brasileira de Pesquisa em Terapia Intensiva (BRICNet) avaliou a eficácia e a segurança de potenciais terapias para pacientes com Covid-19. Denominada Coalizão Covid-19 Brasil, a iniciativa está conduzindo nove estudos voltados a diferentes populações de pacientes infectados pelo novo coronavírus.
O terceiro estudo, nomeado Coalizão III, avaliou se o anti-inflamatório dexametasona poderia trazer benefícios a pacientes adultos hospitalizados com formas graves de Covid-19. Os resultados foram publicados no periódico científico Journal of the American Medical Association (Jama) nesta quarta-feira, 2/9. O estudo contou com apoio da farmacêutica Aché, que forneceu os medicamentos, e foi aprovado pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep) e pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Junto com a divulgação do estudo Coalizão III, foi divulgada também uma revisão de estudos, em formato de meta-análise, realizada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), que compilou os resultados do Coalizão III e das demais pesquisas que utilizaram corticoides em casos de Covid-19. Os resultados dessa meta-análise demonstraram que a administração de corticoides reduz a mortalidade em pacientes graves com Covid-19 e serviram de base para atualização das diretrizes da OMS sobre o tratamento de Covid-19 com corticoides, também divulgada nessa data.
O estudo Coalizão III teve início no dia 17/4/2020, com inclusão do último paciente em 23/6/2020 e seguimento clínico finalizado em 21/7/2020. Foram incluídos 299 pacientes com síndrome respiratória aguda grave submetidos a ventilação mecânica (respiração artificial) em 41 unidades de terapia intensiva (UTI) brasileiras. Por meio de randomização (sorteio), os pacientes receberam dexametasona e suporte clínico padrão (151 pacientes) ou apenas suporte clínico padrão (grupo de controle, composto por 148 pacientes). A dexametasona foi usada por via endovenosa na dose de 20 mg durante 5 dias e 10 mg durante 5 dias. O suporte clínico padrão foi feito de acordo com a equipe médica que assistia os pacientes. A avaliação do efeito do tratamento com dexametasona considerou como resultado principal o número de dias que o paciente permaneceu fora do respirador artificial em até 28 dias.
O que ocorreu com os pacientes incluídos no estudo?
O número de dias fora do respirador artificial foi maior nos pacientes tratados com dexametasona (média de 6,6 dias) do que no grupo de controle (média de 4 dias).
Interpretação: a utilização de dexametasona aumentou o número de dias em que pacientes graves com Covid-19 permaneceram fora do respirador artificial. A retirada mais precoce do respirador artificial pode se associar ao menor risco de complicações decorrentes da permanência na UTI, alta mais precoce da terapia intensiva com liberação de leitos e economia de recursos humanos e financeiros, questões importantes num cenário de escassez como o da atual pandemia.
Efeitos adversos e óbitos
No que diz respeito aos efeitos adversos, a pesquisa não evidenciou um risco maior do tratamento com dexametasona em relação a novas infecções, alterações da glicose e outros eventos adversos sérios. O estudo não foi idealizado para avaliar diferenças de mortalidade entre os grupos e a mortalidade em 28 dias foi de 58% quando considerado o total de pacientes incluídos.
Observações