Publicado em 21 de janeiro de 2021
Uma aliança para condução de pesquisas formada por Hospital Israelita Albert Einstein, HCor, Hospital Sírio-Libanês, Hospital Moinhos de Vento, Hospital Alemão Oswaldo Cruz, BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo, Brazilian Clinical Research Institute (BCRI) e Rede Brasileira de Pesquisa em Terapia Intensiva (BRICNet), avalia a eficácia e a segurança de potenciais terapias para pacientes com Covid-19. Na nova pesquisa do grupo, a quarta a ter resultados publicados em periódicos científicos de alto impacto, o grupo de pesquisadores verificou que adicionar tocilizumabe, medicamento utilizado para artrite, ao tratamento padrão contra o novo coronavírus em pacientes hospitalizados com Covid-19 em estado grave não é melhor do que o tratamento padrão sozinho.
A droga bloqueia uma parte específica do sistema imunológico (interleucina 6) que pode estar associada a complicações relacionadas à inflamação na Covid-19. Para testar essa hipótese, os pesquisadores conduziram ensaio clínico randomizado comparando tocilizumabe mais o tratamento padrão com o tratamento padrão sozinho em pacientes internados com Covid-19 em estado grave ou crítico. Os resultados são baseados em 129 adultos relativamente jovens (idade média de 57 anos) com Covid-19 confirmado em nove hospitais brasileiros entre 8 de maio e 17 de julho de 2020. Os pacientes estavam recebendo oxigênio suplementar ou ventilação mecânica e tinham níveis anormais de, pelo menos, dois exames de sangue associados à inflamação. Eles foram divididos aleatoriamente em dois grupos: 65 receberam tocilizumabe mais o tratamento padrão e 64 receberam apenas o tratamento padrão.
Outros fatores potencialmente importantes como condições de base e uso de outra medicação foram levados em consideração e todos os pacientes foram monitorados por 15 dias. No dia 15 do estudo, 18 pacientes no grupo com tocilizumabe (28%) e 13 no grupo de tratamento padrão (20%) estavam recebendo ventilação mecânica ou morreram. Mortes em 15 dias ocorreram em 11 pacientes no grupo com tocilizumabe (17%) em comparação com 2 no grupo de tratamento padrão (3%). O aumento do número de mortes no grupo que estava recebendo tocilizumabe levantou preocupações de segurança e o ensaio foi interrompido precocemente. Em ambos os grupos, as mortes foram atribuídas à insuficiência respiratória aguda ou à disfunção de múltiplos órgãos relacionada à Covid-19.
O grupo apontou algumas limitações, incluindo o pequeno tamanho da amostra, que afeta as chances de detectar um efeito assertivo. No entanto, os resultados foram consistentes após o ajuste para os níveis de suporte respiratório necessários para os pacientes no início do estudo. Como tal, os pesquisadores concluem que para pacientes com Covid-19 grave ou crítica, tocilizumabe mais o tratamento padrão não foi superior ao tratamento padrão sozinho na melhoria do estado clínico em 15 dias e pode aumentar a mortalidade. Além disso, eles dizem que esses resultados levantam questões sobre uma abordagem anti-inflamatória no tratamento de Covid-19 além dos corticoides.
Ainda há resultados contraditórios nos estudos randomizados sobre o real benefício do tocilizumabe. A Organização Mundial da Saúde (OMS) está realizando uma meta-análise incluindo dados de todos os estudos randomizados com essa droga, incluindo o estudo agora apresentado, para identificar o real benefício da droga no enfrentamento da Covid-19. Esta meta-análise também conta com a participação da médica Viviane Cordeiro Veiga, da BP, representando o estudo da Coalizão Covid-19 Brasil.