Publicado em 1 de agosto de 2022
Atualizado em 9 de agosto de 2022
Os cuidados visando à reabilitação da paciente com câncer de mama devem ser realizados durante cada etapa do tratamento e não apenas depois dele. É a soma desses cuidados, com a atuação integrada de profissionais de diferentes áreas, que vai assegurar que a retomada da vida pós-câncer ocorra com a melhor condição física e emocional, incluindo a vida sexual, aspectos geralmente afetados pelos procedimentos e alterações no organismo da mulher.
A enfermagem tem um papel importante nesse processo, não apenas com suporte na assistência, mas também na coordenação das etapas de reabilitação. Em instituições como a BP, a paciente conta com um enfermeiro navegador, que faz o elo entre ela e a equipe multidisciplinar (oncologista, cirurgião, radioterapeuta, fisioterapeuta, nutricionista, etc.), acompanhando e informando sintomas e condições clínicas. Também participa do planejamento do tratamento e das demandas para recuperação dos efeitos de cada etapa.
Suporte de ponta a ponta
O impacto emocional ao receber o diagnóstico de câncer de mama é diferente em cada mulher. É importante contar com apoio de um psicólogo já nessa etapa, preparando-a para o que está por vir. Essa abordagem ajuda a evitar a depressão e a promover a autoestima. Estudos mostram que isso se reflete positivamente na resposta ao tratamento. O acompanhamento psicológico segue sendo relevante após a alta, devendo ser mantido até que a mulher sinta-se emocionalmente estável novamente.
A cirurgia do tumor faz parte do tratamento do câncer de mama quando diagnosticado em estágio inicial e pode ser realizada antes ou depois da quimioterapia. A decisão sobre o melhor momento da cirurgia é feita após avaliação conjunta do mastologista e oncologista clínico. O programa de recuperação precisa ser adequado às necessidades de cada paciente, dependendo da extensão e do tipo de procedimento – se houve retirada total da mama ou de parte dela, se envolveu remoção de linfonodos (gânglios de defesa do organismo) das axilas e se incluiu a reconstrução da mama. Entre os cuidados pós-operatórios, a fisioterapia é fundamental para tratar possíveis restrições na funcionalidade e amplitude do braço, bem como para evitar ou sanar linfedemas (inchaço ligado à retirada de gânglios linfáticos).
Eventuais efeitos da radioterapia são minimizados com cuidados recomendados pelo radioterapeuta, como evitar água muito quente nas mamas, usar filtro solar e toalhas e tecidos macios na região. Podem ocorrer no local vermelhidão, inchaço ou alta sensibilidade, tratados com cremes apropriados. As reações costumam ser de fácil manejo, mas podem demorar alguns meses até sua resolução completa. Nesses casos, é recomendado manter o acompanhamento o acompanhamento com o radioterapeuta. A avaliação conjunta do dermatologista também pode ser indicada quando necessário.
Dependendo do tipo e da extensão do tumor, algumas pacientes têm de se submeter à quimioterapia. Evitar ou minimizar os efeitos colaterais desse tratamento é um cuidado importante, que também facilita a reabilitação da mulher após o término das sessões. Náuseas e vômitos são evitados ou controlados com medicações. Também pode ser necessário o envolvimento de especialistas de saúde bucal para prevenir ou tratar a mucosite (inflamação das mucosas da boca), um dos possíveis efeitos colaterais dos quimioterápicos.
Outras reações comuns relacionadas à quimioterapia são coceira, dor muscular (mialgia), alterações cutâneas e das unhas e queda de cabelo, também passíveis de controle com cremes e medicamentos. Para reduzir a queda de cabelo, há possibilidade de uso de uma touca especial que diminui a temperatura na região antes da sessão, buscando reduzir a absorção local da substância química. O recurso, contudo, não é eficaz para todas as pacientes.
Para os tumores luminais da mama, isto é, que apresentam expressão de receptores hormonais e se proliferam com o estímulo dos hormônios femininos, a hormonioterapia é indicada. Em geral, esse tratamento é realizado com comprimidos via oral, por um período que pode variar de 5 a 10 anos. O objetivo é reduzir os níveis dos hormônios femininos e, desse modo, diminuir o risco de recidiva (volta) do tumor. Entre os possíveis eventos colaterais, estão o ressecamento vaginal e a redução da libido. Esses problemas podem ser contornados com suporte do ginecologista para indicação de cremes ou géis lubrificantes e/ou outras medicações para evitar dor e traumas na vida sexual. A fisioterapia pélvica também ajuda nessa recuperação, fortalecendo os músculos da pelve e estimulando a sexualidade da mulher.
Em algumas pacientes, a hormonioterapia também pode causar dores nas articulações, que podem ser melhoradas com atividade física. Já as ondas de calor (também conhecidas como fogachos) podem ser aliviadas com o uso de alguns medicamentos, indicados quando necessário.
O aumento de peso é outra possível consequência da terapia hormonal, que precisa ser fortemente combatida. A obesidade é fator de risco para o retorno do câncer e deve ser evitada com acompanhamento de nutricionista para orientação da dieta adequada e com prática de atividade física, se possível com suporte de um educador físico. Vale lembrar que se manter em forma é essencial para todas as mulheres que superaram o câncer, não somente as que estão em hormonioterapia.
Para uma recuperação integral, todos esses aspectos precisam ser planejados de maneira individualizada, de acordo com o perfil e as necessidades de cada paciente. É importante ter em mente que, ao fim de cada etapa, os efeitos também passam: os cabelos crescem, a pele melhora, o mal-estar acaba. Mas a reabilitação bem conduzida torna mais fácil enfrentar os desafios de cada fase e chegar à desejada volta à normalidade em boas condições físicas e emocionais para viver a vida plenamente.
Fontes: Dra. Daniella Audi Blotta – CRM 169558 / Danielle Thaise Ambrosio